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terça-feira, 30 de junho de 2009

Duas para pensar

Hoje eu tou muito sem tempo prá escrever. Então colhi duas matérias para todos nós lermos e pensarmos um pouco sobre essa época de mudanças.

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A primeira, do nada reverente Paulo Henrique Amorim, publicada em seu blog, refere-se à determinação do STF, particularmente representada na pessoa do ilustre juiz Gilmar Dantas, sobre o uso das algemas pela polícia. PHA faz um paralelo de como atua a Justiça nos Estados Unidos e no Brasil.

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Que horror !

Onde já se viu um branco, rico, amigo dos ricos e dos poderosos, elegantíssimo, que mora na Park Avenue, homem do jet set sair da cadeia algemado ?
Onde já se viu isso ?
Na Rússia soviética ?
Na Alemanha de Hitler ?
Que vergonha: a que ponto chegou a decadência americana !
Deus livre e guarde os brasileiros.
Ainda bem que temos o Supremo Tribunal Federal para nos proteger dessa “espetacularização”.
Para nos proteger do avanço assustador das forças do Estado Policial !
"
Paulo Henrique Amorim

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A segunda é um artigo, publicado na Carta Capital, e assinado por Ivana Bentes, que fala de recentes decisões do governo federal a respeito de sua relação com a imprensa.

Por um lado a distribuição das verbas de publicidade, que contemplarão uma quantidade maior de órgãos de comunicação - ao invés dos velhos jornalões e representantes da Grande Imprensa que se acostumaram a dividir o bolo sozinho.

Por outro lado a decisão de instituir canais diretos de comunicação com a pessoas - internet, principalmente, como por exemplo o Blog da Petrobras - tomando da Grande Imprensa a exclusividade da interpretação dos fatos políticos e oferecendo a versão real dos fatos, sob a ótica do governo evidentemente, sem a intermediação dos jornalistas.

"
Quem é contra?

26/06/2009 17:07:24

A verba publicitária governamental para a grande mídia nunca foi assunto de jornal enquanto serviu a poucos grupos beneficiados. Quanto recebem em publicidade do governo os jornais e revistas de grande circulação?

Agora, os novos critérios de regionalização e investimento publicitário do governo para pequenos veículos, democratizando as verbas publicitárias, virou tema do editorial do jornal O Globo de 24/06/2009 com o título pouco sutil de "Para cooptar", que argumenta em benefício de poucos e de olho na divisão do bolo publicitário entre novos e diversos veículos, que passaram de 499 beneficiados em 2003 para 5.297 veículos em 2008. Descentralização das verbas e democratização que para o editorial do Jornal O Globo é "projeto autoritário de subjugação da sociedade".

Ou seja, enquanto o dinheiro ia para poucos veículos, tínhamos o quê? Concentração de poder econômico e político. O editorial tenta argumentar que "Não há justificativa técnica para a inserção de anúncios neste tipo de veículo", leia-se, os pequenos jornais, o midialivrismo, os cinco mil e tantos veículos das mais diversas linhas editoriais e propostas que podem "pulverizar" a verba publicitária e concorrer com a grande mídia naquilo que mais pode atingí-la: descentralização de poder econômico, descentralização de verbas publicitária$$$ e a "biodiversidade" política.

Outra pérola do Editorial: "Não é ilegal, mas se trata de indiscutível desvio de verba pública para pequenas empresas de comunicação que tendem a ficar dependentes da propaganda oficial —, ao contrário da imprensa profissional de grandes centros. (...)" Ou seja, pelo texto se deduz que o governo só deve distribuir o dinheiro público para...."a imprensa profissional dos grandes centros", ou seja, as grandes empresas de Comunicação, que já recebem esse dinheiro e que seriam "independentes" do governo, contribuindo dessa forma para aumentar ainda mais a concentração de poder econômico e político em poucos grupos.

Poder econômico concentrado na mão de poucos nunca foi sinônimo de democracia, mas justamente de poder de "chantagem" política. Por isso a reivindicação midialivrista de democratizar, re-distribuir, ampliar as verbas publicitárias para todo tipo de midia é lida pelo avesso como "o pendor dirigista e intervencionista" do governo, segundo o texto.

Estranho que a mesma mídia que celebra o uso (ainda tímido) das novas mídias pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em contato direto com a multidão, numa experiência de democracia participativa e interativa através da internet, condene o Blog da Petrobrás por entrar em comunicação "direta", via site, twitter, novas mídias com um leitor/produtor de informação, crítico e analistas de fatos. Disputando a "interpretação" e construção das notícias, antigo privilégio das mídias de massa.

Durante o I Fórum de Mídia Livre em 2008 no Rio de Janeiro, uma das principais reivindicações e propostas do Grupo de Trabalho sobre a democratização das Verbas Publicitárias foi combater a distribuição e concentração de verbas públicas apenas para a grande imprensa e mídia do eixo Rio-São Paulo, grande beneficiária do "bolo publicitário" e das verbas do governo.

A concentração de verbas publicitárias para grupos restritos, auto-intitulados "profissionais" e que usam o critério "técnico" da audiência ou tiragem para "exigir" exclusividades privilégios no recebimento das verbas publicitárias do governo vai contra as propostas de combate a concentração de poder econômico na mão de poucos e necessidade de incentivar a pluralidade e diversidade de midias e veículos, com politicas transparentes de verbas para os pequenos veículos, a mídia regional, a internet, plataformas colaborativas de conteúdos, etc.

Depois de Obama on-line celebrado como inovação, a democracia participativa brasileira só tem a ganhar com a comunicação direta, não mediada, interativa, entre governo e sociedade, essa é a nova governança, "sem" mediadores ou com "novos" mediadores dispensando os "gatekeepers", e "guardiões" da mídia clássica que também agem como "embarreradores" da comunicação, criando "dificuldades" para a emergência de uma democracia direta no Brasil, com uma multidão de mídias.

As propostas do Fórum de Mídia livre para a Democratização das Verbas Publicitárias podem ser lidas em: em http://fml.wikispaces.com/propostas-todas--gt-verbas-publicitarias "

Ivana Bentes

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Honduras

Não há meios-termos. O presidente Lula tem razão.

O que aconteceu em Honduras não tem outro nome, e precisa ser chamado pela comunidade internacional exatamente pelo que é: Golpe de Estado.

Porque o Sr. Manuel Zelaya havia sido eleito presidente daquela república. Porque não houve julgamento com o natural direito à ampla defesa que é precognizado pelos princípios democráticos. Assim, não há uma determinação judicial ou parlamentar válida para que se deponha um presidente eleito pelo povo do seu país. Finalmente, porque o Sr. Roberto Micheletti não foi escolhido pelo povo para governar Honduras.

Um avanço importante ocorreu a respeito da reação internacional e da posição da imprensa. Em 2002 houve um Golpe de Estado na Venezuela, que foi tratado como uma "grande conquista" do povo pela grande imprensa, e recebeu apoio de algumas das principais nações do mundo, particularmente os Estados Unidos. Aquilo, aliás, acabou se tornando um dos mais belos exemplos de retomada da ordem democrática que eu já tive notícia. Chávez voltou ao poder por exigência da população, que foi às ruas e cercou o palácio de Miraflores exigindo o afastamento de Pedro Carmona.

Parece que hoje, com o avanço da Internet, não cabe mais um disparate desses: a imprensa está chamando o golpe pelo seu nome próprio: Golpe. Os países estão condenando o ocorrido. A OEA deve cobrar o pleno restabelecimento da ordem democrática naquele país.

Tomara. Porque senão, aí sim, certos temores ainda guardados no armário começam a ser justificados. Haverá uma chance real de podermos começar a ver uma retomada da tradição latino-americana de precisar, como diz Caetano, "de ridículos tiranos".

Não obstante acho que, como diz Nassif, "o fracasso da tomada de Miraflores e da tentativa de alienar o povo com o 'cartunazo'" mostrou uma enorme capacidade de organização popular que, sabem hoje todos os poderosos, não se deve desprezar.

E isso é muito, muito bom.

domingo, 28 de junho de 2009

475 anos!

Apesar de estar comemorando com mais um recorde negativo, o do desemprego, a economia em vias de entrar em Colapso.

Apesar de ser, hoje, o reflexo de décadas sendo literalmente estuprada, muitas vezes por seus próprios filhos.

Apesar de tudo ainda é a Bela Mãe. Com 475 anos de idade, guarda a experiência de séculos aliada ao frescor e à formosura de uma adolescente. Uma menina, baiana, com "Um santo que Deus dá", com "Encantos que Deus dá", com "Um jeito que Deus dá", e com "Defeitos também, que Deus dá".

Que tem muitos mais desafios pela frente. Que precisa contar com seus filhos. Os bons filhos, adotivos ou não.

Parabéns Ilhéus! Os anos não passam prá você. Continua Linda!

sábado, 27 de junho de 2009

Esses tais "Foguetinhos"

Existem fenômenos na natureza que são caracterizados pela longa e silenciosa estagnação, seguida de intensa e transformadora perturbação. Furacões e vendavais aparecem espaçados no tempo e, após se instalarem, derrubam e edificam muitas coisas no ambiente em atuam. Vulcões podem passar séculos parados e em seguida reconstruir violentamente toda a geologia de um lugar. Terremotos, tsunamis, El Niño, La Niña, a lista é quase sem fim.

Meu amigo (amigo é um eufemismo, já que tenho-o amistosamente sem sequer conhecê-lo pessoalmente - no máximo alguns diálogos virtuais) Zé Carlos Júnior é um fenômeno assim. Sabe-se pouco ou nada dele por algum tempo e, de repente, lá no site do Rabat, aparece o Etna em erupção com seus famosos "Foguetinhos". Sempre um grande estrondo.

Parabéns, Zé. Nem sempre concordo contigo. Mas reconheço que você presta um ótimo serviço a toda a comunidade. E eu vou (mais uma vez) pegar carona em seu texto, que foi publicado no site do Rabat (leia aqui).

Zé Carlos fala do trânsito da cidade. Isso por si só já deveria dizer tudo, pois qualquer pessoa que já tenha freqüentado a área de comércio no centro de Ilhéus tem uma boa idéia do que, verdadeira e matematicamente, se define como "O Caos".

Ilhéus sofre com sua idade: suas ruas são estreitas, planejadas para uma época em que os veículos eram escassos e movidos à tração animal.

Ilhéus sofre com o aumento do número de veículos em época de alta estação, porque o turista que tipicamente freqüenta a cidade vem de carro (aluga casa e não consome nada, ou quase nada, mas isso é outra história) o que causa ainda mais impacto na circulação de veículos.

Ilhéus sofre com a excessiva centralização do comércio e das atividades administrativas e bancárias que se concentram todas numa só região da cidade.

Tudo isso, por si só, já seria um problema e tanto. Mas há, como bem aponta Zé Carlos, uma série de problemas adicionais com o próprio comportamento dos condutores de veículos. Basta dar uma circulada no centro para se ver: veículos parados em fila dupla, estacionados em local proibido, além daquela famosa "paradinha prá descer um passageiro", que interrompe toda uma artéria por preciosos e cumulativos segundos.

O interessante é que o maior prejuízo fica para o comércio da cidade (além do usuário do trânsito, é claro), pois essa atividade depende fortemente de que as pessoas tenham acesso aos pontos comerciais. Considerando que toda a atividade econômica da cidade, comércio inclusive, está sofrendo uma forte retração, essa ajuda que o tráfego caótico dá, empurrando tudo para o fundo do poço, definitivamente bem poderia ser dispensada.

Curiosamente a prefeitura pode (e deve) tomar uma decisão a respeito. Há forte respaldo em lei. O Código de Trânsito Brasileiro, para ser mais preciso. O município pode estabelecer regras de circulação e estacionamento e os infratores podem (e devem) ser punidos. Basta uma boa gestão política para estabelecer acordos com a polícia Militar e para ativar a fiscalização municipal.

Seria bom para o comércio, para os usuários do trânsito e até para a administração da cidade, já que o quinhão sobre o valor arrecadado com as infrações que caberia à prefeitura seria um aporte muito bem vindo aos combalidos cofres do tesouro municipal.

Embora possivelmente desagradasse alguns condutores que se considerem acima da Lei e do interesse coletivo. Mas o Poder Público não pode ser sensível a isso. E um prefeito que foi eleito com 60% dos votos também não precisa se curvar a essas pessoas.

Não é, evidentemente, uma medida suficiente para resolver todos os problemas. Mas melhorar o trânsito de Ilhéus, exigindo a simples punição dos infratores é algo que pode ser feito com relativa facilidade.

E vai ser bom para quase todo mundo. Ou, se preferirem, para todo mundo que merece.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Acidente do vôo JJ3054 da TAM

Eu nunca postei nada sobre isso antes. Porque não tinha nada a dizer. Mas sou um grande aficcionado por aviação, e os acidentes sempre me impressionam e me entristecem muito.

Naquele caso do vôo 3054 da TAM, uma das coisas que me chamaram à atenção foi a velocidade de muitos setores da grande imprensa em culpar o Governo Federal e o "Caos Aéreo" pelo acidente. Um movimento que ultrapassa os limites da ética. Mas que não é incomum na imprensa brasileira.

Enrtetanto, as causas do acidente sempre me interessaram. Pelo mesmo motivo que à ANAC, às companhias aéreas e ao CENIPA: entender e garantir que tais falhas jamais ocorram novamente.

E somos brindados com essa matéria de "O Globo". Eles ainda estão tentando encontrar um culpado. Porque é tão difícil de entender que ninguém queria que aquilo ocorresse? Que ninguém se beneficiou com aquilo?

De O GLOBO
CENIPA: FALHA HUMANA CAUSOU ACIDENTE DA TAM
Relatório afirma que piloto, preocupado com pista molhada de Congonhas, errou a posição de manete; 119 morreram

De Tahiane Stochero:

Uma falha do piloto provocada pela pressão de ter que pousar em uma pista em condições inadequadas é uma das principais causas apontadas pelo relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) para explicar o acidente com o Airbus da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 17 de julho de 2007. Na ocasião, morreram 199 pessoas, entre passageiros do voo e pessoas que estavam em um prédio atingido pelo avião.

O relatório, que o “Diário de S.Paulo” publica hoje, aponta ao menos oito fatores que contribuíram para que o piloto cometesse o erro de manter uma das manetes (alavanca que controla a potência do motor) na posição de “climb” (aceleração) durante o pouso. A transcrição das caixas-pretas comprova que só a manete esquerda foi colocada na posição certa, de “reverse” (freio).

A investigação entende que a pista de Congonhas, que estava sem grooving (ranhuras) e “molhada e escorregadia” na hora do pouso, preocuparam o piloto. Nas conversas na cabine, o comandante Kleyber Lima relembra três vezes nos cinco minutos que antecedem o acidente que o reverso (freio aerodinâmico) direito estava inoperante. A pressão para parar o jato em circunstâncias adversas, agravadas por problemas psicológicos, fisiológicos e falhas na preparação, induziram o piloto ao erro, concluiu o Cenipa.

Comentário (do Blog do Nassif - leia aqui)

"
A falha pode ter sido do piloto. A culpa, não.

Se um motorista passa em um buraco na rua deixado pela companhia de gás, o erro foi dele, por não ter visto o buraco, ou da companhia, por ter deixado o buraco por lá?

Os pílotos da TAM “erraram” tendo que conviver com as seguintes circunstâncias:

1. FIm da Varig e disputa insana pelo seu espólio de passageiros.

2. Aviões da TAM recebendo manutenção nos intervalos dos pousos em aeroportos, para não perder uma migalha de oportunidade de ampliar seu share no mercado.

3. Justamente por isso, permissão para o avião voar sem o reverso.

4. Mais que isso: sem o reverso, com o avião com lotação máxima de passageiros e com tanques cheios, para lucrar com o ICMS menor do Rio Grande do Sul, deixando a nave extremamente pesada.

5. Mais que isso: em noite de chuva.

6. Mais que isso: em pista curta e recentemente recapeada.

O crime está em ter se permitido esse acúmulo de problemas. A falha foi dos pilotos. A culpa foi da TAM e da ANAC. "

Perfeito. Faço minhas as palavras do Nassif.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

...é São João em Campina!

"É xote, xaxado e baião, milho verde. É São João em Campina!"

Ah! O São joão em Campina Grande... como sou ou meio paraibano, e com muito orgulho, vejam o que é a minha querida Capital do Maior São João do Mundo.

Se você nunca viu, precisa ver.

O São João!



O passeio "Forroviário"! (sempre sinto saudades do sotaque paraibano)



E, "futucando" pela cidade, achamos verdadeiras preciosidades artísticas e musicais. Querem um exemplo? Conheçam Biliu de Campina!



Vem prá cá! Ninguém se arrepende!


terça-feira, 23 de junho de 2009

A doença de Jorge

Muitas pessoas dependiam de Jorge. Sua esposa, infelizmente, tinha problemas de saúde e não podia trabalhar. Seus filhos, ainda muito jovens, estavam em idade pré-escolar. Tinha uma sogra inválida. Tinha um cachorro. Tinha um gato. Tinha até um papagaio velho que nunca aprendera a falar.

Todos dependiam dos parcos reais que Jorge trazia prá casa no final de cada mês. Forte e muito disposto ao trabalho, Jorge jamais deixou de comparecer com o sustento de todos.

Mas um dia Jorge acordou com febre. A sua família não quis acreditar que ele estivesse doente. Insistiram que não era nada, que passaria, e ele foi trabalhar.

No outro dia Jorge acordou com dor de cabeça. Seus dependentes olharam uns para os outros e decidiram que não era possível que Jorge estivesse doente. Isso seria muito ruim para todos. Talvez o fim. Não podia ser verdade, pois Jorge sempre fora um homem tão saudável! E insistiram com ele, e Jorge foi trabalhar.

Mas a aurora seguinte encontrou Jorge com dores no peito, falta de ar, febre, dores por todo o corpo. Jorge não podia mais trabalhar, porque já não conseguia sequer erguer-se da cama. Jorge estava irremediavelmente doente. Sua família teve que aceitar isso, finalmente.

Chamado às pressas, porém, o médico nada pôde fazer. Jorge havia contraído uma bactéria muito grave. Estava com todos os órgãos comprometidos. Não tinha mais jeito. O antibiótico precisava ser dado no primeiro ou no segundo dia, quando todos ainda queriam negar a doença de Jorge. Agora era tarde demais.

Jorge morreu. Todos os seus ficaram desamparados.

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Tem um outro Jorge doente. O "nosso" Jorge. São Jorge dos Ilhéus, que mais uma vez mostrou os sinais de sua infecção: saldo negativo de 420 empregos nos primeiros cinco meses deste ano. A indústria foi o setor que mais demitiu, cortando 246 empregos, seguida dos serviços com perda de 201 e o comércio com 81 (leia aqui), dados divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O nosso Jorge tá tão doente que nem pode comemorar seu aniversário (leia aqui).

Nosso Jorge tem um pouco mais de sorte, porque sua infecção está diagnosticada, e o remédio que pode curá-lo está disponível. Só depende de nós, que somos seus dependentes.

Porém, nós precisamos aceitar a dura realidade de que nosso Jorge está doente. Por mais doloroso que isso possa ser. É necessário entender que ele precisa de remédio, mesmo com todos os efeitos colaterais. Se continuarmos negando isso por mais tempo pode ser tarde demais para o nosso Jorge. Como foi para o outro.

Jorge precisa do antibiótico que detenha sua infecção econômica, e precisa dele imediatamente.

Porque nosso Jorge está morrendo rápido.

Qualquer um pode ver isso.

domingo, 21 de junho de 2009

Porque eu digo SIM ao Porto Sul? (parte 2)

Os motivos pelos quais eu sou a favor do novo Porto já causaram bastante polêmica, particularmente depois que foram publicados no site do Rabat (aqui) e no meu blog (aqui). As réplicas às considerações feitas pelos internautas eu também já pus no ar, podem ler aqui.

Os motivos pelos quais eu sou a favor do novo porto são de duas linhas distintas: por um lado o modelo econômico da região baseado no turismo e na lavoura do cacau já se mostrou totalmente inviável para gerar renda e desenvolvimento econômico e social. Gera um pequeno grupo de abastados e uma horda de miseráveis. Nada mais. Por outro lado, o complexo Intermodal traz uma grande quantidade de riscos e de problemas intrínsecos que precisam ser discutidos e tratados, evidentemente. Mas é uma possibilidade real de acrescentar um projeto de desenvolvimento econômico e social para esta região.

Antes de tudo é preciso esclarecer que eu não tenho nada pessoal contra os que não gostam do projeto Porto Sul. Pelo contrário, tenho envidado contatos com algumas pessoas que se opõem radicalmente ao projeto, e mantemos uma relação amistosa, apesar de discordante. E eu penso que todas as pessoas que são contra o Porto, mesmo as mais radicais, podem estar prestando um grande serviço à cidade e à região. Porque essas pessoas fortalecem o debate, sendo elas as portadoras do contraditório, e com isso atuam amadurecendo a discussão. Além disso, tenho cá comigo a convicção de que as pessoas que se opõem ao projeto estarão a postos para denunciar e questionar tudo a respeito da condução do processo, atuando como verdadeiros fiscais. Isso é outro serviço de inestimável valor.

Voltando ao Porto, é importante esclarecer que, apesar de ser uma obra interessante, com o potencial de gerar muitos empregos diretos e indiretos, proporcionando toda uma espiral de desenvolvimento econômico para a região, é imprescindível que a sociedade esteja a postos para que certos riscos potenciais não se verifiquem. Esses riscos podem não só inviabilizar o Porto; também podem jogar por terra todas as boas perspectivas a respeito.

Em primeiro lugar há um risco real de o projeto não sair do papel. Aliás, segundo consta, o projeto nem no papel está ainda. Em termos práticos o Governo do Estado tem uma “carta de intenções” a respeito. Não tenho detalhes do que venha a ser uma carta de intenções. Mas sei que não há nenhum compromisso com datas, prazos, etc. Nenhuma garantia a respeito de nada. A qualquer momento uma mudança de governo ou de interesses pode por tudo a perder. É preciso uma forte atuação política no sentido de arrancar garantias reais de que o projeto será levado a cabo.

Um outro ponto polêmico é a respeito do tempo que perdurará a jazida de ferro que estará sendo explorada. Há informações que dão conta de 25 anos. Mas já há os que denunciam que seria por 11 anos apenas. É preciso esclarecer bem isso, pelo respeito à verdade e à boa informação. Todavia, não creio que isso seja um grande problema, já que o equipamento que será construído não se perderá depois desse prazo. A infra-estrutura de Porto, Aeroporto e Ferrovia permanecerá instalada em Ilhéus e terá inestimável valor estratégico por muitas décadas. Por exemplo, com um aeroporto de porte internacional poder-se-á finalmente desenvolver o turismo da cidade. Não o turismo parasitário que temos, mas o turismo de pessoas que consomem e usufruem do serviços da cidade, e geram emprego e renda. Da mesma forma, há infinitas possibilidades econômicas de exploração do Porto e da Ferrovia.

Um outro ponto importante a ser considerado é que precisamos garantir que sejam empregadas e aproveitadas ao máximo, tanto na construção quanto na operação do projeto, as pessoas da região. Por exemplo, recebi uma informação de que “A CSA, construindo uma siderurgia no Rio de Janeiro, queria importar 6.000 chineses”. Eu não confirmei a informação, mas não duvido, já que a CSA tem um interesse claro em usar os chineses: eles trabalham a 30 dólares (algo em torno de 60 reais, ao câmbio do início de junho de 2009) por mês. Na verdade o que precisamos entender é que as empresas que virão trabalhar no Porto não estão interessadas nas pessoas de Ilhéus, nem no seu desenvolvimento econômico e social. Interessam-se apenas em seus lucros. Por conseguinte, é preciso que discutamos com a gestão do projeto para que os interesses das empresas efetivamente sirvam também aos interesses de desenvolvimento social da região. Efetivamente é possível impor o uso de mão de obra local. É possível exigir que eles capacitem pessoas da região para serem aproveitadas no Complexo Intermodal, tanto na sua construção quanto na sua operação. E esse ponto é de importância capital. Ilhéus tem uma universidade pública, algumas universidades privadas, e está (espero) recebendo um IFBA. Na região tem SENAC e SENAI. Possibilidades de parcerias não faltam. É preciso haver atenção, negociação e cobrança.

Outro ponto importante, embora um tanto desgastado, mas que precisamos manter em vista, é a questão ambiental. É necessário esclarecer uma coisa muito simples: o projeto terá, sim, impacto sobre o meio ambiente. Haverá desmatamento, alteração na população dos ecossistemas, modificação de aspectos geológicos e químicos do solo. Todos esses impactos precisam ser medidos e tratados. Por “tratados” entenda-se: minimizar, com o uso de tecnologias, e compensar, com ações pró-ativas de proteção e recuperação de áreas degradadas. O próprio minério de ferro traz um risco à saúde das pessoas, embora esse seja um problema para o qual existam alternativas tecnológicas. Não obstante, é muito importante que discutamos as garantias que temos de que o minério será tratado corretamente, e que a população e o meio ambiente não sofrerão danos em decorrência do processamento.

Pessoalmente acho que o projeto Porto Sul é uma excelente alternativa porque gerará emprego e renda. Mas é interessante também porque diversificará a economia, apontando para um ciclo de desenvolvimento econômico com suporte ao desenvolvimento social, coisa que até o momento não se viu, senão timidamente, na cidade de Ilhéus e região. O complexo Porto Sul é polêmico, e traz riscos que merecem ser apreciados e fiscalizados muito cuidadosamente. Mas é uma alternativa possível, viável. É uma chance. Recusado o projeto, qual a alternativa que se posa? Com o Porto há uma chance real de desenvolvimento, de melhoria. Sem ele temos a certeza da realidade de pobreza e subdesenvolvimento econômico que experimentamos hoje.

Às vezes é melhor trocar o certo pelo duvidoso.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico!

"Saiba ou não, admita ou não, todo homem brasileiro inveja o Chico Buarque. A inveja, naturalmente, além de ser uma merda, é uma forma doentia de admiração. Não se deseja só o que o outro tem — berço, gênio, uma bela família, olhos azuis, um drible difícil de marcar, um apê no Marais — mas também o que o outro é. Portanto, saiba ou não, admita ou não, todo homem brasileiro gostaria de ser o Chico Buarque. Ao mesmo tempo, e aqui afinal chego ao meu ponto, o Chico já é todo homem brasileiro." (Artur Dapieve)

Um pouco de Chico Buarque? Tomem aí!

"Na galeria,
cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão"



Sei que as mulheres suspiram. Como jamais o fariam por mim. Então sou inveja pura. Mas a verdade é que eu suspiro também.

Salve!

Hoje faz 65 anos.

Chico Buarque de Holanda

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Tréplica da Parte 1

Eu publiquei um texto, explicando porque eu digo sim ao novo porto. O texto foi apresentado também no site do Rabat (leia aqui) e recebeu, como tantas vezes acontece, uma saraivada de críticas.

Que eu considero dignas de respeito, em sua maioria, e por esse motivo dediquei algumas horas para construir uma tréplica, contestando, concordando e discordando, sempre mui feliz com a polêmica e com o debate.

Não obstante, não vou responder aqui a ataques grosseiros, pessoais ou sem nenhum fundamento. Prefiro deixar o silêncio, seguido da inflexível disposição para o debate civilizado e sincero. Portanto, desculpem-me, mas vou ater-me ao que vale á pena, e assim não responderei às seguintes colocações:

Acho que o Sr. necessita de lentes novas para ver melhor o que já está muito claro.
E abra os olhos também!”
(Anonymous)

“(...)nao sei bem de que forma poderia descrever o pensamento do sr degas e das pessoas que usam a desculpa de que esse projeto vai desenvolver a regiao. poxa fico pensando se essas pessoas acreditam mesmo nessa possibilidadde, ou se elas ganham algum para se fazerem acreditar” (Anonymous)

Esses intelectualóides metidos a comnunistas ainda vão destruir Ilheus. O que há de errado em um home honesto ter sua fazenda e ganhar dinheiro com isso? O que há de errado em ter uma casa e alugar? Quem não gostar que se mude ora!

Ainda vão destruir Ilheus com essas invencionices.”


(Anonymous)
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E agora vejamos o que temos, material farto e interessante: Primeiro "Anonymous", me pergunta: “já pensou que o que pode vir de possitivo vai ser maior que o negativo? já pensou nós já temos problemas demais e só vao aumentar.”.

A resposta é: SIM! Com certeza! Há uma série de riscos que estamos assumindo no projeto. Há uma chance de os malefícios superarem os benefícios. Isso é óbvio! Discutirei em breve o porquê de o Porto ser um projeto que traz riscos e que, por esse motivo, precisa ser acompanhado com atenção. Mas não se trata apenas de trocar o certo pelo duvidoso. Trata-se de trocar o certamente ruim, o modelo miserável a que essa região está submetido, por algo que pode – e depende muito de nós mesmos fazê-lo – ser uma alternativa muito boa e muito interessante para a região.

O mesmo "Anonymous" segue seu raciocínio: “se vc acha que isso vai resolver os problemas de emprego da regiao, por que regioes que tem esse "desenvolvimento" tem favelados , desempregados, analfabetos, viciados, desesperados,
por que? sabe? me diga? me convença?”.


Eu não sou demagogo. Notem que não tenho nenhum interesse pessoal no Complexo do Porto Sul, exceto que me incomoda viver numa cidade e numa região cada vez mais empobrecida. Assim, posso te dizer com toda clareza que minhas opiniões são suportadas por interesses totalmente impessoais. Talvez o Sr. Tenha ouvido alguém prometer, com o projeto, o bálsamo de todos os males da região. Eu jamais faria isso.

Dessa forma, respondendo às suas perguntas: não, não acho que os problemas serão resolvidos. Sim, é verdade que as regiões que possuem equipamentos semelhantes não estão livres de mazelas sociais. Mas, por favor, viaje a Vitória, a Cabedelo (na minha querida Paraíba), a Santos, a Itajaí. São todas cidades que eu tive o prazer de conhecer, e posso afirmar tranquilamente que a qualidade de vida ali é muito superior à que temos nessa região. Há mais oferta de emprego e de serviços, há uma economia mais ativa. Isso fomenta, via taxas públicas e via demanda populacional, o desenvolvimento de equipamentos públicos como hospitais, escolas, universidades, espaços públicos, etc. Claro que o Porto não vai ser a salvação de todos os problemas de Ilhéus e região. Demagogia dizer isso. Mas será uma ruptura com a decadência econômica progressiva a que essa cidade está submetida.

E os dados dessa decadência não são meus. São dados do IBGE, que aponta a população de Ilhéus como decrescente em função do êxodo, e do DIEESE, que mostra os níveis de emprego cada vez menores há anos seguidos – mesmo quando o Brasil quebrava recordes de geração de emprego.

Não vejo como negar a decadência desse modelo econômico frente a dados tão claros. Ouço muito esperneio, muita agressão, mas os dados, infelizmente, não se curvam a isso. Permanecem inexoráveis mostrando que a economia dessa região está simplesmente se desfazendo aos poucos.

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Alguém que, um tanto estranhamente, assinou como “Álvaro Dengas”, pondera o seguinte:

“Com certeza, vai ocorrer um crescimento populacional desordenado. Vai atrair migrantes que chegarão à Ponta da Tulha, no nosso município, no entorno, das cidades vizinhas, como Uruçuca, Itacaré, Ubaitaba, Itabuna... Com perspectiva de trabalho e melhores condições de vida.”

Eu não fico confortável de afirmar que essas coisas vão ou não vão acontecer “com certeza”. Não tenho bola de cristal e, segundo reza o bom método científico, todas as hipóteses precisam ser testadas para que cheguemos a uma tese. De onde vem a “certeza”? Mas eu concordo que há, efetivamente, um risco de que esse processo ocorra. Não obstante, também vejo medidas relativamente simples que podem ser tomadas e que o evitem: por exemplo, capacitar e usar mão de obra da região onde está se desenvolvendo o projeto. Não vejo nenhuma complicação em se fazer isso.

“A cidade de Vitória não possuía infra-estrutura para receber o grande fluxo migratório que, com o problema do desemprego no campo, se deslocou em sua direção durante e após, a construção do Porto de Tubarão, das indústrias que fazem parte dos Grandes Projetos Industriais. A instalação dessa população no pequeno espaço físico da cidade gerou a expansão de favelas e a ocupação do manguezal na área oposta ao Oceano. Foram considerados como
impacto dos fluxos migratórios, o inchaço das periferias, o aumento de índices de desemprego, diminuição nos índices de escolaridade, elevação dos índices de violência e criminalidade, prostituição, o índice de pobreza aumentou significativamente”
.

Em contrapartida a cidade de Vitória hoje possui uma atividade econômica muito mais robusta, com bancos, comércio, hotéis, serviços, etc. funcionando num ritmo muito mais acelerado do que antes do Porto de Tubarão. A arrecadação municipal multiplicou, não só com o Porto quanto com o próprio fortalecimento da economia. É hoje um centro muito melhor de serviços médicos e hospitalares, educacionais e de transporte. A sua infra-estrutura, na forma de avenidas, pontes, etc. também foi multiplicada. Os problemas que chegaram à cidade com o Porto de Tubarão poderiam ser evitados ou amenizados, mas as vantagens que o investimento trouxe estão lá para se ver. Qualquer capixaba atesta isso com orgulho.

“Senhor já imaginou a quantidade de desempregados com a conclusão das
obras? O impacto social, ambiental que gerará? A falta de saúde, de emprego, de moradia?”

Acho impressionante como algumas pessoas afirmam que isso vai acontecer. Não, os desempregados não precisam certamente surgir com a conclusão da obra. Pois pode-se planejá-la para usar somente mão de obra local, conforme discuti acima. E quanto à falta de saúde, emprego, moradia... desculpe o pragmatismo, mas a quantas o Sr. acha que andam as ofertas de saúde, emprego e moradia em Ilhéus hoje? Com o Porto, e todas as atividades que cercarão o porto, haverá certamente uma demanda por mão de obra. Não vejo como isso aumentará o desemprego porque mesmo que nenhuma pessoa daqui seja contratada, o nível de desemprego então apenas será mantido. Não aumentará. Quanto à saúde e à moradia, pensando do ponto de vista público, a perspectiva é na verdade muito boa, porque haverá um incremento na arrecadação municipal e estadual. Basta que os dirigentes direcionem os investimentos na direção certa. Se isso não acontecer, então temos um problema. Mas um problema de gestão política - vejamos os prefeitos que andamos elegendo. Não do Porto.

"Novas parcerias deverão ser feitas com a Vale e outras instituições, pois novos projetos estão para serem implantados na região, aumentando ainda mais o processo migratório e os problemas socioeconômicos"

Isso! Esse é o ponto! As empresas não são preocupadas com o bem estar das pessoas, nem com a preservação da natureza, nem com o desenvolvimento econômico e social de uma região. Preocupam-se em ganhar dinheiro. Precisamos nos posicionar, e entrar em acordo com elas. Exigir delas. Colocar os interesses coletivos à frente das negociações, exigir contrapartidas aos seus lucros. Isso pode ser feito. Já foi feito em outros lugares.

“O cacau é mais do que uma cultura, é uma paixão que nos leva a acreditar que é possível superar a crise e atingir a sustentabilidade" (viúva do Saudoso Demostinho)

Não conheci o “Saudoso Demostinho”, tampouco conheço sua viúva. Mas devoto-lhes o maior respeito, independente disso. Não obstante... qual o sentido prático dessa frase? O cacau é uma paixão? E daí? O futebol também é! E nos dá a sensação de que é possível superar a crise? Poderia nos dar a sensação de que é possível construir um foguete para ir a Marte. Não nos dá a mínima evidência de nada. Não tem valor racional nenhum.

“o TURISMO, a maior indústria do mundo, segundo os cientistas econômicos e conhecedores do assunto. Na revista Exame eles apresentam estudos que o turismo é capaz de gerar novas colocações uma vez e meia mais rápido que qualquer outro no setor industrial, sem contar com os empregos indiretos.”

Ah, sim. O Turismo é uma grande indústria. Com certeza. Mas mostre-me uma única cidade que vive apenas do Turismo, por favor. Além disso, vamos falar francamente, o turismo que se tem em Ilhéus é o turismo predatório e parasitário. Não gera emprego e renda, senão sub-empregos temporários que perduram durante a alta estação, se tanto. Nem mais nem menos.

A fatia do “bom turismo”, a que o Sr. provavelmente se refere, é muito, muito pequena.

“o turismo é algo que não destrói (...) O turismo da forma que está sendo orientado, o que é uma tendência mundial, PRESERVA.”

Taí uma informação que eu gostaria de conhecer a fonte. Vendo campos de golfe, áreas abertas para prédios e cabanas, instalações de restaurantes, piscinas, quadras, campos de futebol e hotéis, estacionamentos... tudo produzindo esgoto, poluição e desmatamento, acho difícil acreditar que “o turismo preserva”. O turismo, assim como qualquer outra atividade econômica, tem seu impacto sobre o ambiente. Não podemos negar. Esse impacto pode ser contornado, minimizado e compensado? Claro! Tanto o impacto causado pelo turismo quanto o impacto causado por um Porto.

“(agronegócio) 40% dos empregos com carteira assinada no país”

Outra informação que eu queria ver a fonte. Porque se 40% das carteiras assinadas estão no agronegócio, mas menos de um quarto das pessoas do país vive no campo, então está-se vivendo uma opulência sem tamanho! Que se torna ainda mais estranha quando juntamos essa informação com o fato de que “o governo Lula editou a medida provisória 410, tirando o direito à carteira assinada dos trabalhadores rurais que executam trabalhos temporários”, que pode ser confirmada no site do PSTU (leia aqui).

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Um outro interlocutor, que também se alcunhou Anonymous, faz as seguintes considerações:

“mas emprego e renda? Para quem? Para os técnicos altamente qualificados que serão trazidos de São Paulo - ou do exterior - para operar o Porto e levar o dinheiro embora do mesmo jeito que os turistas porcos que seu texto condena??”

Bom. Vamos fazer duas contas possíveis. Primeiro caso: TODOS os contratados vem de fora. TODOS os empregos indiretos serão dados para pessoas de fora. Convenhamos que essa probabilidade é irreal. Mas ainda assim, o nível de desemprego da cidade não aumentará. Ninguém será contratado, mas também ninguém perderá o seu emprego! Provavelmente ainda diminuirá, pois esses TODOS que virão de fora precisarão viver na cidade: comprar, alugar casas, abastecer veículos, estudar, comer, etc. Isso é geração de emprego e renda.

Agora a outra conta possível: com um mínimo de responsabilidade, capacita-se e aproveita-se mão de obra local para se engajar no porto. Então muitas pessoas encontrarão oportunidade de trabalhar diretamente no porto. E empresas gerarão empregos indiretos de maneira semelhante. Então o nível de desemprego diminuirá muito!

A conta não é tão difícil de entender: o nível de desemprego não tem porque aumentar. No pior e remotíssimo caso, permanecerá estacionado. Mas com um pouco de ação das pessoas, e responsabilidade dos condutores do processo, os resultados podem ser ótimos.

Ilhéus está (tomara que se realize!) recebendo um IFBA. E tem a UESC e mais algumas universidades privadas. Todos podem e devem se engajar na capacitação de mão de obra para desenvolver atividades ligadas ao novo Porto. Isso é possível, depende apenas de um pouco de coordenação e esforço.

“Aceito sua reflexão, mas penso que ela foi muito minimalista e superficial.”

Mostre-me especificamente onde. Ou então passo a tratar essa sua consideração como mais uma agressão sem sentido que não merece resposta.

“Lamentarei mais ainda ao ver daqui há 10, 15 ou 20 anos, os ilheenses lembrando, chateados, por terem acreditado na ilusão de que esse porto traria alguma riqueza pra cidade. E as poucas paisagens preservadas, completamente destruídas pela ganância de faturar do governo estadual associado com gente que nenhum compromisso possui com o Brasil - quanto mais com Ilhéus.”

Engraçado o Sr. não imaginar se não há, hoje, ilheenses que, 10, 15 ou 20 anos atrás, também acreditaram que a lavoura cacaueira e o turismo seriam a salvação da região e hoje se lamentam. Note que há uma diferença: o Sr. diz que lamentará, no futuro. Como o futuro não é uma certeza matemática, precisamos considerar isso no condicional. Assim, pode ser que o Sr. lamente no futuro. Pode ser que não. Mas eu estou falando de pessoas que efetivamente lamentam hoje. Fatos, não possibilidades.

“é no mínimo infantil acreditar que os governantes e empresários estão preocupados com o desenvolvimento econômico da região.”

Evidentemente. No caso dos empresários, isso é óbvio. Empresários se preocupam em ganhar dinheiro. Simples assim. Mas a busca deles pode ser benéfica para todos. Porque na busca pelo lucro eles geram emprego, constroem infra-estrutura, impulsionam diferentes aspectos da economia. Cabe-nos, enquanto sociedade, decidir quando e quanto eles, os empresários, podem avançar em sua busca pelo lucro. E a medida exata é a vantagem que a sociedade leva. Se deixa de haver vantagem, então é hora de impedir os empresários. Há mecanismos para isso tanto no poder Executivo quanto no poder Judiciário.

No caso do Porto Sul, ainda discutirei a respeito, não espero que as empresas desejem mais do que ganhar dinheiro. O que se espera é que isso possa ser traduzido em vantagens para as pessoas da região.

Quanto aos políticos eu não vou discutir. Porque eu creio nos seres humanos, e portanto creio que há, sim, políticos interessados no desenvolvimento e no bem comum. Mas são convicções pessoais.


Um grande prazer debater com vocês. Podem usar esse espaço aqui para continuar, se desejarem.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Porque eu digo SIM ao Porto Sul? (parte 1)

Essa semana recebi um e-mail de uma amiga, em que ela apontava uma série de problemas a respeito do Porto Sul. Boa parte do que ela apresentou de material ganhou minha imediata concordância. Outra boa parte me suscitou dúvidas. Uma parte final não me convenceu. Imagino que as partes montem, respectivamente, 20, 30 e 50% do material.

Mas isso vem pouco ao caso.

Eu permaneço defendendo a idéia do Porto Sul. E são duas as minhas motivações: em primeiro lugar, e me desculpem os que não gostam de ouvir isso, essa região é, e sempre foi, muito pobre, embora habitada por algumas pessoas muito ricas. Os modelos econômicos que foram experimentados aqui não geraram mais que alguns latifundiários e empresários que exploram o turismo, e uma imensidade de pessoas com pouca ou nenhuma condição de evolução social e econômica. O segundo motivo é que, apesar de acrescentar certos riscos, e demandar toda uma gama de cuidados e atenções, o projeto do Porto é uma tentativa real de romper com o modelo econômico gerador de pobreza. Como bem foi também o Pólo de Informática, cuja gestão e contratempos acabaram por, infelizmente, deixá-lo fortemente minado. Contudo, é preciso ressaltar que o desenvolvimento baseado na indústria mostra, historicamente, muito mais progressos sociais e econômicos do que os modelos baseados no setor primário. Não percamos isso de vista.

As minhas motivações são polêmicas, eu sei bem. Já levei muita “pedrada eletrônica” porque afirmei, aqui e em alguns outros lugares, que a cidade de Ilhéus é uma cidade economicamente decadente. Mas infelizmente os fatos não mudam apenas porque não gostamos dele. De fato, a monocultura baseada no Cacau, e a “Indústria do Turismo” nunca promoveram o real desenvolvimento desta região. E eu não creio que vão promover. Ilhéus está, há vários anos, com desemprego crescente (mesmo quando no Brasil inteiro se quebrava recordes de geração de emprego, em Ilhéus os números só pioravam), com a população diminuindo, sofrendo com o êxodo de pessoas que abandonam a cidade em busca de emprego. Os índices sociais de miséria, violência, abandono, prostituição e tráfico de drogas só fazem crescer.

O motivo pelo qual essa região nunca alcançou um verdadeiro desenvolvimento econômico e social é, por incrível que pareça, até simples de se entender.

No caso do Cacau, a produção é baseada no modelo da monocultura. O mesmo que tivemos no Brasil na época do café, em São Paulo, Paraná e Minas Gerais; ou do algodão, no sertão Nordestino; ou da cana de açúcar, nas partes mais orientais dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Em todos esses casos de monocultura, e o Cacau não foge à regra, gerou-se alguns fazendeiros e negociantes (aqui eram "exportadores") bastante abastados, cercados de lavradores (bóias-frias), estivadores e, como infelizmente sempre acontece, prostituição (e tráfico, mais recentemente) que formam uma imensa população abaixo da margem da pobreza. Ainda hoje é assim, e não há um único indício de que isso tenha a menor propensão a se transformar.

A alternativa do Turismo também não se mostrou verossímil. Em primeiro lugar porque é uma atividade que sofre fortemente com a sazonalidade: praticamente inexiste nos meses de baixa estação. Além disso, o modelo de turismo da cidade é baseado no pior e mais amador turismo que existe: o dos “moradores de verão”. Nada pessoalmente contra quem mantém uma casa por aqui para vir no verão. Tampouco contra quem prefere alugar uma casa na praia por alguns dias ou semanas. Mas do ponto de vista das pessoas da cidade de Ilhéus, qual a vantagem? Pois esse modelo de turista normalmente não freqüenta restaurantes, nem barracas de praia, nem barzinhos. Prefere consumir produtos trazidos de suas cidades, e fazem-no dentro das suas casas, alugadas ou não. Não geram empregos, não geram renda, não ajudam significativamente o município. Muitos deles (mas não todos, que se diga bem) ainda emporcalham as praias e as ruas, consomem do comércio clandestino, incentivam a prostituição (de crianças inclusive) e o tráfico de drogas. Verdadeiros parasitas.

Claro que não devemos abrir mão do turismo, nem da cultura do Cacau. Estes dois, inclusive, estão histórica e culturalmente interligados. Tem lá o seu valor, e não estando toda a região refém desse modelo, vale até a pena mantê-los. Mas precisamos entender um fato muito simples: por melhor que eles possam ser – e definitivamente podemos melhorá-los muito – eles simplesmente jamais serão bons o bastante.

Daí que propostas como o Porto Sul me parecem bem vindas, porque diversificam a produção econômica, aumentando as oportunidades de emprego e renda, que poderão ser obtidos direta e indiretamente. Além de trazer toda uma infra-estrutura para a região, o que acaba sendo um patrimônio estrategicamente importante no futuro.

Em breve eu ponho a segunda parte desse pequeno monólogo, onde eu discuto o porquê de o Porto Sul estar eivado de uma série de riscos potenciais, que demandam nosso mais intenso cuidado, mas continua sendo, para mim, uma excelente alternativa para o desenvolvimento econômico da região.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Campanha: Banco (das filas) do Brasil

O serviço prestado pelo Banco do Brasil na cidade de Ilhéus há muito deixou de ser classificado como péssimo. Precisamos inventar uma nova categoria de qualidade de serviço para definí-lo.

Caixas eletrônicos? Raros. Havia um na praça defronte ao Vesúvio. Fechou. Outro no posto Atlântico Sul. Fechou... onde ainda restam desses seres em extinção?

Os que sobreviveram perecem, moribundos de falta de manutenção: não raro há falhas nos terminais do aeroporto e da rodoviária. Outros, como na padaria do Pontal, estão permanentemente em manutenção.

Nas agências não é diferente.

E o resultado, como facilmente podemos imaginar, são filas quilométricas em todos os terminais de auto-atendimento, e em todos os setores de todas as agências.

Por isso estou lançando a mais nova campanha deste blog: Banco (das filas) do Brasil.

Copiem e distribuam o logotipo à vontade.



E ao pessoal do Banco do Brasil, além dos cumprimentos de praxe, manifesto minha intenção de retirar essa campanha do ar assim que seus serviços prestados aos cidadãos desta cidade se tornem minimamente aceitáveis.

domingo, 14 de junho de 2009

O BLOG da Petrobrás

Está havendo uma grande celeuma na imprensa a respeito do Blog da Petrobrás. Basicamente o argumento é o de que a empresa estaria violando o trabalho dos jornalistas, ao mostrar uma versão dos fatos que é diferente da versão "oficial" que pauta a imprensa escrita, falada e televisada.

Jornais como Folha de São Paulo e O Globo, além da própria ANJ, acusaram o blog de “intimidar e impedir a liberdade de imprensa” (leia aqui). Em O Globo, acusaram a empresa de estar atuando ilegalmente.

Que pena que eles ainda pensem assim. Por vários motivos.

O primeiro, óbvio, é que não há nenhuma ilegalidade no que a empresa está fazendo. Ela está mostrando o material colhido nas entrevistas segundo um ponto de vista diferente do que os jornais usam. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente. Se os jornais não gostam, que o denunciem, o contestem, o desmascarem. Mas não aleguem haver ilegalidade nisso.

O segundo, mais sutil, é a fragilidade percebida. Notem que o velho "jornalzinho", as "notas de imprensa" e anúncios televisivos, para citar alguns dos outros meios de divulgação que a empresa pode usar, não foram alvo das críticas. Apenas o Blog. Percebe-se aí um certo temor da grande imprensa frente ao poder da mídia desorquestrada, caótica, sem dono, mas de alcance cada vez maior: a Internet.

Com efeito, o poder dos grandes meios de comunicação, não obstante ainda seja muito grande e digno de respeito, vem sendo forte e, a cada vez mais, decisivamente minado pela comunicação não pautada, não dirigida, e portanto mais democrática, da Internet.

O primeiro exemplo que tenho notícia disso foi no plebiscito do desarmamento. A Rede Globo encampou a campanha pelo desarmamento (eu também!). Todo o seu elenco atuou ali. E eles começaram na frente nas avaliações dos institutos de pesquisa. Mas o debate prosseguiu e mesmo apoiados pela principal emissora de televisão do país, no final foram vencidos pela outra proposta (infelizmente).

Em 2006 o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, teve apoio quase declarado da emissora. Além do de muitos outros membros da grande imprensa como Folha de São Paulo, O Estadão, etc. Todavia, apesar de conseguir emplacar um improvável segundo turno naquelas eleições, acabariam desistindo ao perceberem que a batalha estava perdida.

Porém, não desistem de acumular notícias ruins contra o governo federal, tentando diminuir sua popularidade.

Até a queda do avião da TAM foi apresentada como o fato de que "esse governo assassinou 199 pessoas".

E, apesar de tudo isso, a popularidade do presidente persiste.

Acho importante ressaltar aqui que eu, pessoalmente, preferia que a escolha fosse pelo desarmamento. E também acho que o Presidente Lula (que não foi meu candidato no primeiro turno de 2006), apesar de ter sido muito melhor do que seus antecessores, não mereçe os índices de aprovação que atualmente possui.

Mas gosto de saber que a grande imprensa não está mais pautando a opinião pública da mesma forma que já fez outrora. Gosto que as pessoas se informem pela Internet. Que não tem uma só opinião, um só dono, uma só ideologia política. A Internet, a "blogosfera", é o lugar do plural, onde todos podem dizer o que desejam. Onde o debate acontece, portanto, da maneira mais franca, transparente, esclarecedora.

Por isso, embora acredite que toda e qualquer denúncia a respeito da conduta da Petrobrás mereça ser investigada, e entenda que essas investigações servem a todos os brasileiros, verdadeiros donos que somos da petrolífera, também não posso deixar de apoiar a iniciativa da empresa de mostrar a sua própria versão dos fatos, o contexto em que as entrevistas foram feitas, as interpretações alternativas que podem ser feitas de tudo o que é dito em entrevistas, e de todos os fatos que surgem.

Porque isso é o contraditório, elemento fundamental do debate. A grande imprensa não tem do que reclamar.

Parece que eles estão tendo um pouco de dificuldade em lidar com as novas formas de comunicação em massa. Precisam se acostumar com a Internet. Com a "blogosfera". Com a pluralidade de opiniões e de expressões.

Com a democracia.

sábado, 13 de junho de 2009

Pode ser mais fácil

Conheço muitos cubanos. A maioria é colega da UESC. Quem me conhece já me ouviu tecer declarações ácidas a respeito da ditadura absurda, mentirosa e injustificável que é imposta aos habitantes daquela ilha.

Mas também já me viu aplaudir as conquistas daquele povo. Eles tem muito a ensinar ao mundo todo, pois tantas vezes nos mostram que as coisas podem ser mais simples se os interesses forem mais claros.

Saúde, por exemplo: o intresse de quem cura deve ser ganhar dinheiro? Ou promover a vida humana?

Michael Moore, o polêmico cineasta americano, levou alguns cidadãos dos Estados Unidos até a ilha de Cuba. Aquelas pessoas, em seu país, não conseguiam encontrar a cura para seus males. Faltava-lhes dinheiro. Faltava-lhes a devida atenção aos seus casos.

É um vídeo longo. Mas vale à pena ser assistido.



Duas observações a mais: a) trata-se evidentemente de propaganda do modelo de medicina cubano. Mas nem por isso uma mentira. Conheço inúmeras testemunhas, cubanos e não-cubanos, que corroboram as alegações do vídeo. b) não vejo porque as idéias e as soluções encontradas pelos cubanos não possam servir de exemplo para o resto do mundo. O que é bom merece ser copiado.

Quando o interesse é o lucro o fundamento básico passa a ser reduzir custos, e maximizar ganhos. E as pessoas precisarão se sujeitar a isso.

Educação e Saúde não podem ser negócio. Preciam ser um direito natural.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Zona Azul: aspectos sociais

Com a iminente implementação do sistema de Zona Azul na cidade de Ilhéus, uma preocupação de cunho social acaba sendo recorrente: o que será dos flanelinhas que vivem de guardar os carros nas mais diversas áreas da cidade?

A questão tem contornos particularmente dramáticos a se ver a própria situação econômica em que se encontra o município. De fato, é uma pequena catástrofe deixá-los sem ocupação numa cidade em que as oportunidades são absolutamente escassas. Praticamente nulas.

Mas há uma sugestão bem simples para amenizar, ou quem sabe até melhorar, a perspectiva de futuro desses flanelinhas: cooperativas.

A sugestão é que a Prefeitura procure os flanelinhas e os incentive a formar cooperativas que receberão do município a concessão para operar a Zona Azul.

Nesse caso, a Secretaria de Transportes - ou o equivalente a isso na administração municipal - ficaria incumbida de contratar as cooperativas para operar em diferentes áreas de Zona Azul do município. A arrecadação seria partilhada com a cooperativa e os outrora flanelinhas poderiam trabalhar em condições mais dignas, como empreendedores cooperados ou como funcionários de carteira assinada. A se ver.

Acho que essa é uma boa idéia, embora evidentemente sejam necessárias discussões mais profundas a respeito de detalhes ligados à legislação municipal, fiscalização do serviço, etc.

Mas fica a sugestão.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Maioridade Penal

Taí uma polêmica grande: a proposta do ilustre senador Magno Malta (PR-ES) de que "todo brasileiro que cometer crime com natureza hedionda, independente de faixa etária, perca a menoridade, seja colocado na maioridade para responder às penas da lei" viria a complementar a PEC do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) que reduziria a maioridade penal de 18 para 16 anos. Leia aqui.

Deixa eu mostrar o porquê de, em minha modesta opinião, tratarem-se de duas enormes inutilidades. Para não dizer um desserviço à sociedade brasileira.

Antes vamos entender a motivação desses senhores. E que é também de muitas pessoas que partilham da mesma opinião. A violência cometida por menores de idade.

Ninguém quer ser vítima de bandidos. Mas algumas vezes a Lei não pode agir, pois trata-se de menores de idade. Crianças, às vezes. E ficamos com a sensação de impunidade.

De fato, são preocupantes os números. Crianças envolvidas com o tráfico, com prostituição, com o crime organizado. Crianças cuja infância inexiste, pois já nascem sem família, ou com famílias sem a mínima estrutura psicológica e financeira. Sem escola, ou com as escolas nas péssimas condições que temos. Crianças sem oportunidades tornam-se criminosos. Muitas vezes antes da maioridade.

E aí parece que a proposta do senador Demóstenes, de reduzir a maioridade penal, vai-nos livrar desse mal. Ou então é a idéia do senador Magno Malta, que torna maior de idade o autor de um crime hediondo, o bálsamo para a extrema violência de que somos vítimas.

Bem, não é.

Em primeiro lugar, vamos ver o que haverá ao se reduzir a maioridade penal. Quando temos notícias de menores de idade que cometem crimes, pensamos em quase-adultos, de 16, 17 anos. E também pensamos que eles ficam totalmente impunes.

Aprovada a redução da maioridade penal, e a quantidade de crimes cometidos por menores de idade diminuirá. Com certeza. Obviamente. Mas a quantidade total de crimes diminuirá? Os agora "maiores" de 16 e 17 anos deixarão a vida de criminosos imediatamente, por conta da lei? E quanto aos crimes que são cometidos por crianças de 14 ou 15 anos, o que faremos? Será que daqui a 15 ou 20 anos promulgaremos uma nova redução da maioridade penal? Até que idade? Onde isso vai parar?

Já a idéia do senador Malta é ainda mais estranha: vamos tornar maior de idade qualquer criança que cometa um crime hediondo. Com isso poderemos ter crianças (de quantos anos?) respondendo a um processo criminal. E as demais "pensarão duas vezes antes de cometer um crime assim".

Mas será que isso fará com que as outras crianças que convivem em ambientes semelhantes deixem de cometer crimes hediondos? Imaginemos uma facção criminosa como o Comando Vermelho, por exemplo. Tomemos os "membros" adultos. Observem que o fato de um membro de uma gangue ser condenado à cadeia (ou coisa pior) nunca intimida os demais a cometerem crimes. Se nos adultos, que já desenvolveram seu senso de julgamento, o "exemplo" da punição do vizinho não funciona, porque esperar isso das crianças?

O resultado da mudança proposta pelo senadores é nos aproximar de uma situação abjeta como se vê, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, crianças são julgadas e condenadas, para delírio de alguns cérebros mais sádicos. Chegam a ter quase 1% da população total do país encarcerada. Enquanto isso os índices reais de violência permanecem inalterados.

É importante entender e aceitar o que todas as pesquisas nos mostram: a principal causa da violência perpretada por crianças não é a impunidade. Pelo contrário: a vida que é imposta a essas crianças já traz em si, implícita, a própria pena capital; por um confronto com polícia, traição de alguém de sua gangue, disputa entre gangues rivais. Podem escolher. Poucos deles tem chance real de envelhecer, e eles sabem muito bem disso.

Puní-los mais ainda não vai resolver o problema.

A violência só cederá quando as pessoas tiverem mais oportunidades de encontrar caminhos alternativos. Quando as crianças frequentarem melhores escolas, quando seus pais viverem com a dignidade mínima necessária para construir uma família estruturada.

Nenhuma criança nasceu má. Nenhuma criança pediu para se tornar criminosa. Nenhuma criança tem culpa de a sociedade negar-lhe as condições mínimas de desenvolvimento.

A sociedade está se tornando vítima da violência cometida pelas crianças? Pode ser. Mas, dialeticamente, as crianças que são forjadas no crime são vítimas da própria sociedade.

Precisamos romper esse ciclo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Evento em NY

Alguns amigos me mandaram e-mails perguntando sobre uma premiação que eu teria recebido como pesquisador aqui em New York.

Bem, deixa eu esclarecer de uma vez por todas: não recebi prêmio nenhum.

Meu trabalho foi classificado em segundo lugar. Apesar de ser uma posição honrosa e de eu estar feliz com o resultado, a verdade é que o prêmio é dado apenas ao primeiro colocado. Portanto, não recebi prêmio algum.

Sobre o trabalho, que alguns também me perguntam, eu posso tentar explicar em linhas gerais.

O título: "On Evaluation of Services Selection Algorithms in Multi-Services P2P Grids" ("Sobre a avaliação de algoritmo de seleção se serviços em grades P2P muilti-serviços" - livre tradução minha). P2P significa peer-to-peer, ou "entre-pares" (tradução minha).

Este trabalho está inserido num contexto relativamente novo em computação: Cloud Computing (Computação nas Nuvens). Portanto, é necessário um parágrafo para explicar esse conceito.

Em Cloud Computing se propõe que haverá uma "nuvem", que na verdade são inúmeros recursos computacionais interconectados, e os serviços computacionais de que precisamos poderão ser obtidos dali. Por exemplo, não precisaríamos mais nos preocupar com nossos documentos de texto, nossas planilhas eletrônicas, nossos Bancos de Dados, nossos aplicativos de alta performance. Não teríamos que instalar nada em nossas máquinas, nem cuidar de anti-vírus, backup, etc. Tudo estará disponível na "nuvem", basta-nos estar conectados.

Do ponto de vista de serviços de grandes corporações, como universidades, empresas e autarquias, já existem esforços nessa direção. Tanto com soluções simples e eficazes para serviços pessoais, como faz o Google (Picasa, Google Docs, etc.) quanto com soluções mais sofisticadas, para serviços mais complexos, como a Amazon, por exemplo. Esse é um caminho possível: empresas oferecerem o serviço e nós pagarmos um pouco por ele (não se iludam: o Google não é de graça, pois você está sujeito a anúncios comerciais).

Mas há uma outra alternativa, principalmente para organizações como univeridades e centros de pesquisa: grades computacionais P2P. São computadores espalhados pelo mundo todo que oferecem serviços entre si, tipicamente na base da troca. Por exemplo, se o seu computador está parado nesse momento, enquanto você lê este texto, saiba que ele poderia estar processando algum serviço para outra pessoa. O que você ganharia com isso? Bem, em troca, quando fosse sua vez de solicitar algum serviço, você receberia recursos computacionais de terceiros. Tudo "de graça".

Há toda uma teoria econômica que sustenta a viabilidade desse sistema. Basicamente é fácil observar que ele só evoluirá se houver vantagem para todos o que participam dele. Para isso, é necessário encontrar boas parcerias, ou, como dizemos, bons peers (pares) entre os demais usuários. Isso é possível se oferecemos os serviços corretos. O que na verdade significa escolher aqueles serviços que são mais baratos para nós, e que serão consumidos por peers que nos retribuirão bem no futuro.

Isso impõe a necessidade de selecionar os serviços que serão oferecidos. Logo, é importante se usar um algoritmo para seleção de serviços. O problema é que o ambiente em que esses algoritmos atuam é totalmente incerto: não dá para saber o que os demais peers farão, nem quando. E o comportamento dos peers no sistema P2P os afeta mutuamente.

A pergunta que temos, então, é a seguinte: como saber se um algoritmo de seleção de serviços é bom ou ruim?

E em meu trabalho eu apresento uma metodologia para se aferir a qualidade desses algoritmos.

O resto do trabalho, com detalhes da metodologia, a avaliação de ambientes, a validação de premissas e toda a teoria científica por trás de tudo há de ser menos interessante; não vou tecer comentários aqui.

sábado, 6 de junho de 2009

Zona Azul

Parece que a prefeitura de Ilhéus vai finalmente implemenar um projeto de Zona Azul, em que os motoristas pagam por cada hora em que ocupam vagas no centro da cidade.

A notícia está em vários blogs, como o "Pensar Grande Ilhéus" (leia aqui).

Não obtante esse seja realmente um assunto muito polêmico, principalmente porque vai mexer no bolso de muitas pessoas que usufruem dos estacionamentos no centro da cidade - eu inclusive, não posso deixar de, coerentemente, parabenizar a prefeitura pela medida.

Ocorre que, à medida em que as cidades começam a se desenvolver, e sua frota de veículos começa a aumentar, a disputa por vagas de estacionamento na área central da cidade se torna maior, e a quantidade de vagas disponíveis se torna mais exígua.

Para que a oferta de espaço se torne mais democrática é necessário se estabelecer um tempo de uso para cada um dos usuários, a fim de que outros também possam ter a sua vez.

Atualmente, sem o sistema Zona Azul, a maioria das vagas são ocupadas no início do horário de expediente comercial, e assim permanecem durante todo ou quase todo o período.

O prejuízo, nesse caso, não é apenas do motorista que não estacionou. É de toda a economia municipal que perde inúmeras e seguidas oportunidades de negócio.

Esse problema não é específico de Ilhéus, evidentemente. Todas as cidades que experimentam um significativo aumento de sua frota de veículos passam por situação semelhante. Nesses casos, tipicamente, a solução é a implementação de uma Zona Azul. Foi o que ocorreu, por exemplo, em tantas cidades cuja economia se desenvolveu: Itabuna, Vitória da Conquista, Feira de Santana, etc.

Em todas essas cidades o trânsito melhorou e o uso do espaço se tornou mais democrático depois da Zona Azul.

A Zona Azul democratiza um pouco mais o acesso às vagas de estacionamento na área central da cidade porque estabelece que o usufruto do espaço deve ser compartilhado, uma hora por vez, entre todos os usuários. Quem exceder seu direito está sujeito a sanções que podem ser o pagamento de multas ou até mesmo, quem sabe, a apreensão (reboque) do veículo em casos muito graves.

Dessa forma, as pessoas de Ilhéus terão mais oportunidades de freqüentar o centro de sua cidade. Isso será bom para o Comércio, para os motoristas, para o setor de serviços, para o Turismo e para a própria organização e circulação do trânsito.

Se queremos uma cidade maior, e mais desenvolvida, então precisamos tê-la organizada e funcional no uso democrático e eficiente de seus espaços.

A Zona Azul é muito bem vinda. Não porque seja um bálsamo de todos os problemas.

Mas porque é um excelente começo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

The Phanton of the Opera

Ontem estive na Broadway, e estive em frente ao melhor espetáculo teatral que já tive a oportunidade de assistir. The Phantom of the Opera (O Fantasma da Ópera).

O texto, o mais famoso de Gaston Leroux, aliado à competência impressionante da impecável montagem dos produtores da Broadway formaram um espetáculo simplesmente magnífico.

Pra quem eventualmente não conheça, a história fala de um fantasma solitário (Erik) que "assombra" a ópera de Paris. Erik se apaixona pela bela Christine e faz dela a estrela do teatro.

Mas Christine se apaixona por Raoul, e o fantasma, egoísta, inicia uma grande vingança. Mas acaba reconhecendo sua derrota frente ao amor dos dois.

A peça está em cartaz há mais de 20 anos. O Vídeo abaixo dá uma noção da produção desta ópera que me fez gargalhar em alguns momentos, asustado em outros, mas deixou-me muito comovido também.



Muito emocionante. Arte do mais alto nível.

Definitivamente a Broadway é um espetáculo à parte em se tratando de artes cênicas. Faz parte do que há de bom nos Estados Unidos.

Onde erramos?

Porque não conseguimos manter as boas coisas da escola de ontem e apenas acrescentar as boas coisas da escola de hoje?

Será que a sociedade está tão apodrecida que nem a escola pode ser poupada?

A charge eu achei no site do Rabat.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Comprando uma mãe

Quem quiser pode conferir o vídeo. Ele está aqui. Achei a referência numa postagem do Blog do Gusmão. Não vou colocá-lo no meu blog por dois motivos: 1. O programa do Sílvio Santos é muito pouco do meu gosto. 2. Aquilo foi uma verdadeira violência contra uma criança.

Mas posso fazer alguns comentários.

Primeiro, que eu acho aquela menininha um tanto sem graça. Simplesmente porque ela tem pouca (na verdade nenhuma) maturidade para fazer o que faz. Acaba sendo, muito evidentemente, um pequeno robozinho que obedece ao que lhe é dito no "ponto" que está ao seu ouvido.

Segundo, o mais importante, ela é apenas uma criança. Não deveria estar submetida à rotina de trabalho de uma TV. Isso, por si só, é simplesmente abjeto.

Sobre o vídeo, é uma sucessão de eventos a se lamentar: primeiro a falta de tato do apresentador, que espicaça a criança até levá-la ao choro. "Mas você chora por tudo", diz ele. É verdade. Crianças na idade dela tem uma tendência a chorar "por tudo" mesmo. É da idade. E isso precisa ser contornado pelos adultos. Há muitas formas de fazer isso. Afrontar e humilhar uma criança na frente de um auditório lotado não é, seguramnte, a melhor delas.

Mas o que me impressionou mesmo foi que a criança, chorando, seguiu correndo ao encontro da mãe. Porque é ali, com os pais, que a criança deveria encontrar o seu abrigo mais seguro. O colo da mãe ou do pai, o abraço deles, precisa ser, para a criança, o lugar onde ela é inatingível. Ali ela precisa saber que está protegida de tudo e de todos.

E a mãe da garotinha, o que fez? Mandou-a de volta ao palco. A criança, humilde, implora: "Sílvio, posso sair?".

Sei que a mãe assinou um contrato leonino, que impõe obrigações profissionais à criança (obrigações profissionais aos 3 ou 4 anos?). Sei que Sílvio Santos é um patrão inflexível. Aliás, isso ficou evidente.

Mas eu fico me perguntando: que mãe sujeitaria sua criança a esse tipo de situação? Que mãe receberia a filha correndo, desesperada por um abraço, com a ordem fria de retornar ao palco, e voltar a ter com seu algoz?

Ou, em outras palavras, com quanto dinheiro se tira, de uma criança, o seu porto mais seguro?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Congresso na Bahia, congresso em NY

O ano passado estive na conferência IEEE-NOMS em Salvador. Esse ano estou na conferência IEEE-IM em NY. IM e NOMS são "irmãs"; uma ocorre nos anos pares e a outra nos anos ímpares.

A conferência desse ano é sediada na Hofstra University, em New York. Uma universidade que eu jamais havia ouvido falar. Mas tem um campus fantástico, infra-estrutura completa, cobrindo uma área, para se ter uma idéia, um pouco maior do que o tamanho do Pontal em Ilhéus (incluindo o aeroporto).

A do ano passado foi sediada em Salvador, Bahia.

E, em minha modesta opinião, podemos nos orgulhar. Em Salvador a estrutura do evento era muito melhor, os equipamentos disponíveis (projetores, computadores, etc.) tinham qualidade superior. Os workshops paralelos estavam melhor acomodados.

E na parte de interação social, então, nem se fala.

Permitamo-me pois sentir um sincero orgulho a esse respeito. Não temos a mesma estrutura, mas temos muito mais profundo o sentimento de anfitrião.