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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Dialética

Há algum tempo eu tenho contato, nos mais diversos segmentos científicos, com a expressão “Dialética”. Inicialmente eu tentei que me explicassem bem, porque para mim parecia um mistério. Mas as explicações foram todas insuficientes para meu intelecto, provavelmente limitado, que não conseguia alcançar a totalidade do conceito.

Ou então quem explicava para mim também não sabia, isto é sempre uma possibilidade!

Mas eis que muitos anos, debates e leituras depois, cá estou eu falando sobre a Dialética. Não pretendo fazer aqui uma aula sobre o assunto, quem sou eu, “pobre positivista“ (às vezes me tratam assim), nem tentando discorrer como um professor sobre isso. Pretendo, antes, ser um guia, e mostrar alguns dos conceitos que eu supostamente apreendi do assunto, mas sob a ótica de um estudante das ciências exatas. Mais que tentar explicar a Dialética, pretendo mostrá-la sob o ponto de vista de alguém que não é específico das ciências humanas.

Em primeiro lugar é necessário esclarecer que a Dialética é uma maneira de pensar, de compreender fenômenos. E naturalmente não é a única. Além disso, há um pressuposto básico de que estes fenômenos estão em constante transformação. Não há sentido em usar a Dialética para fenômenos considerados estáticos.

Para esclarecer um pouco mais, e dando algum espaço à ideologia, vou exemplificar com a Dialética Marxista. O objeto do estudo, em humanidades, é o homem. Mas, num modelo simplificado, como o que é usado em ciências humanas, não há sentido (segundo Marx e sua dialética) falar do homem. Porque o homem não se transforma. Caso essa consideração sobre o homem fosse feita num contexto biológico, considerando os aspectos evolucionários, isso teria que ser revisto. Mas não é o caso: para os humanistas, o homem, biologicamente, não muda.

Dialeticamente, portanto, não se poderia falar do homem. Mas se poderia falar dos papéis que o homem representa ao longo da História, pois estes sim se transformam. Por exemplo, na Idade Média, um homem poderia ser Senhor, ou Servo. No Capitalismo, o homem é Capitalista ou Proletário. Isso foi uma das coisas que Marx discutiu. Para ele, é a atuação dos homens nos papéis que representa que impõe dinamismo às sociedades.

Esse dinamismo se dá pela eterna disputa entre a Tese e a Antítese, que juntas formam a Síntese. Para explicar esses três conceitos, ainda usando Marx, tomarei o sistema Capitalista como base.

Este é definido como a Síntese do Capital (Tese) e do Trabalho (Antítese). Um não existe sem o outro no sistema Capitalista, mas ao mesmo tempo os dois não existem sem conflitos. E é do conflito que surge a dinâmica, as transformações que ocorrem ao longo da história.

O Modo de Produção Asiático e o Feudalismo, por exemplo, foram transformados pelo conflito intrínseco e dialético entre a Tese e a Antítese. Esse conflito acaba, em algum momento, levando o sistema a um estado em que o papel desempenhado pelos homens começa a se transformar, e isso é incompatível com a estrutura do próprio sistema: ele rui, ao mesmo tempo que começa a gestar um novo. Quando surge a classe Burguesa, por exemplo, o Sistema Feudal não se vê mais viável, já que o papel da Burguesia não é sustentável dentro dele, e acaba forçando o sistema a ruir. Com a revolução industrial, surge o Capitalismo, que absorve a Burguesia (Capital) e os operários (Trabalho) se pensamos essas relações considerando o modelo dialético. Nesse caso, necessariamente a natureza dinâmica das relações sociais permanece, e os conflitos também.

Essa maneira muito peculiar de entender os fenômenos científicos é muito útil para as Ciências Humanas, porque permite uma série de simplificações para tornar tratável certos domínios que, não fosse assim, dificilmente poderiam sê-lo. Por exemplo, do estudo do homem sobre a sua própria natureza surgem teorias científicas. As teorias de Marx, por hipótese. Mas ao mesmo tempo em que há uma teoria sobre a sociedade, que é produzida pelo homem, há também um homem que é produzido pela Sociedade (lembrem-se de que os aspectos biológicos são desprezados nesses estudos) o que invalidaria a própria teoria, já que não é possível saber se a teoria é produto do homem ou da própria sociedade em que ele está imerso.

Isso, matematicamente, remete ao teorema de Göedel. Os sistemas não podem ser ao mesmo tempo completos e consistentes. Nesse caso, o estudo do homem pelo próprio homem é uma inconsistência.

Dialeticamente essa inconsistência precisaria ser inserida nas próprias teorias, forçando-as a lidar com as contradições inerentes a ela mesma. Mas normalmente é necessário se romper com esse dilema, e nesse caso não há outra saída: é necessário simplificar o modelo, rompendo um pouco com o Pensamento Dialético. Não se deve tomar isso como uma crítica às ciências humanas; devo lembrar que se fazem modelos simplificados em todas as ciências. No caso específico das Humanidades, por um instante assume-se que o homem é um observador externo, de forma que ele tenha a liberdade de teorizar sobre a sociedade como um químico teoriza sobre reações moleculares. Isso permite "validar" teorias. Mas de toda forma é interessante como, se levado ao extremo, o pensamento dialético pode contestar até a si mesmo.

O interessante desse modelo de pensamento, que guia muitas teorias em Ciências Humanas, é que ele não precisa ficar restrito a elas. Por exemplo, uma reação química é precisamente a transformação de um sistema gerada pela interação dos reagentes com reatores, que também se transformam. Um ecossistema evolui e é superado por outros ecossistemas porque os seres vivos e não-vivos interagem modificando-o e modificando-se. Esses fenômenos guardam uma forte analogia com a Luta de Classes e, portanto, com a própria Dialética.

Também em Ciência da Computação, imaginando um programa executando numa máquina de Turing, em que a fita impõe modificações no estado da máquina, que por sua vez impõe modificações na fita, até que o sistema seja superado – e o programa encerra sua execução.

O pensamento Dialético é perfeitamente válido nesses casos. Mas parece ser pouco útil porque normalmente o interesse é no resultado final das transformações, não no mecanismo intrínseco que impulsiona o processo. Além disso, outorga-se aos cientistas a prerrogativa de olhar o sistema externamente, como na verdade somente Deus ou os ET's poderia fazer com as sociedades humanas.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Pedidos: COELBA

Em função dos recentes episódios de falhas, interrupções e blecautes em toda a cidade de Ilhéus, recebi pedidos de informação sobre a campanha "Eu Compro Muitas Velas por Causa da COELBA" .

O logotipo está abaixo.



A permissão de uso por quem desejar é permanentemente concedida.

Conforme prometido, a Campanha não volta, pelo menos por enquanto, e espero que não seja mais necessário. Todavia, para os que desejarem, pode-se acessar aqui.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Página da Prefeitura

Interessante essa questão da Home Page da prefeitura de Ilhéus permanecer fora do ar, exaurindo seguidamente os prazos que são apresentados.

Mais interessante fica quando, segundo "Cravo sem Canela", a responsabilidade pelo trabalho cabe à Companhia Estadua de Processamento de Dados da Bahia - PRODEB. Leia a matéria aqui.

Eu não conheço a PRODEB, mas trabalhei durante alguns anos como Analista de Sistemas na sua co-irmã, a CODATA - Companhia de Processamento de Dados da Paraíba. Pela minha experiência, considerando a realidade que eu vivi numa empresa similar, o prazo provavelmente não será cumprido de novo, e isso é apenas o primeiro dos inúmeros problemas que a Prefeitura de Ilhéus terá com seu site: haverão erros de dados, demora de atualizações, DNS, etc.

Antes que alguém aponte o dedo contra a PRODEB, recomendo que espere um pouco mais. Ainda baseando-me na CODATA, devo dizer que certamente há pessoas extremamente capacitadas naquela empresa, e não falta, pelo menos na área técnica, quem deseje que todos os trabalhos sejam bem conduzidos, e que todos os clientes - entre os quais a prefeitura de Ilhéus - estejam satisfeitos.

Tenho certeza que não é esse o caso. O problema é que a quantidade de trabalho que é legado às empresas estaduais de processamento de dados é absurdamente grande - incluídos aí a manutenção de sistemas estratégicos como Detran, Secretaria de Finanças, Secretaria de Saúde, Secretaria de Educação, Tribunal de Justiça, Auditorias. Todos com demandas frequentes e, naturalmente, urgentes (urgentíssimas!). Some-se a isso o sistema de back-end (armazenamento e disponibilização de dados) de todo o estado da Bahia e ter-se-á uma pálida idéia do motivo pelo qual a prefeitura de Ilhéus não recebe a devida prioridade.

Mas ao mesmo tempo é de se perguntar: porque a PRODEB? Porque a prefeitura de Ilhéus não contrata empresas da cidade para manter sua home page no ar? Todos os semestres a UESC gradua muitos Bacharéis em Ciência da Computação. Outros tantos egressos dos cursos de Sistemas de Informação, oriundos de universidades particulares também podem ser encontrados com relativa facilidade. Com certeza prover esse (e possivelmente outros) serviços de Tecnologia da Informação (TI) para a Prefeitura de Ilhéus é tarefa que lhes está ao alcance.

O serviço seria garantido à Prefeitura com um nível de qualidade consideravelmente melhor, além de ser um negócio a mais gerado na própria cidade, e alguns empregos técnicos e adminstrativos gerados nessas empresas.

Talvez haja algum impedimento legal que eu desconheça, mas não creio que seja o caso.

Parece que um pouco de bom senso e vontade devem bastar para resolver o problema.

A Fábula dos Porcos

Recebi de Sidney, um grande amigo. Muito interessante, para refletirmos sobre o quanto os projetos na verdade são simples, ainda que se insista em fazê-los parecer complicados.

"Certa vez irrompeu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, que até então comiam carne crua, experimentaram a carne assada. Acharam-na deliciosa. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque. O tempo passou, e o sistema de assar porcos continuou basicamente o mesmo.

Mas as coisas nem sempre funcionavam bem: às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. Os especialistas alegavam que o fracasso do sistema se devia à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou, ainda, às árvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.

Como se vê, era difícil isolar o problema – na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: havia maquinário diversificado, indivíduos dedicados a acender o fogo – os incendiadores – e especialistas em ventos – os anemotécnicos. Os incendiadores se subdividiam em categorias, conforme o treinamento: incendiadores da zona norte, da zona sul, de inverno e de verão, de fogo diurno e de fogo noturno e assim por diante. Havia um diretor-geral de Assamento e Alimentação Assada, um diretor de Técnicas Ígneas, um administrador-geral de Reflorestamento, uma Comissão de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias e o Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas.

Eram milhares de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes e a produção de chamas mais potentes. Havia grandes instalações para confinar os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno.

Mas um dia, Joboão, um humilde incendiador do grupamento norte-inverno-diurno, resolveu dizer que o problema tinha fácil solução: bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpá-lo e cortá-lo adequadamente e colocá-lo então em uma grade de ferro, sobre brasas, até que o efeito do calor – e não as chamas – assasse a carne,
sem estorricá-la.

Tendo sido informado sobre as idéias de Joboão, Absalão, o diretor-geral de Assamento e Alimentação Assada, mandou chamá-lo ao seu gabinete:

'Tudo o que o senhor propõe está correto, mas não funcionaria na prática. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? E com os incendiadores de diversas especialidades? E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os desenhistas de instalações para porcos, com suas máquinas purificadoras de ar? E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? O que eu faria com meu bom amigo (e cunhado), presidente da Comissão para o Estudo do Aproveitamento Integral dos Resíduos das Queimadas? O que eu faria com todos eles, se a sua sugestão fosse aceita?'

'Não sei', disse Joboão, encabulado.

'O senhor percebe agora que a sua idéia não atende às nossas conveniências? O senhor não vê que, se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo? O senhor, com certeza, compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a assar um porco por vez, sobre brasas, sem chamas. O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos e sequer têm folhas para dar sombra? E o que fazer com nossos engenheiros em porcopirotecnia? Vamos, diga-me!'

'Não sei, senhor.'

'Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia por aí dizendo que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério do que o senhor imagina. Aqui entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua idéia – isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo.'

Joboão, coitado, não deu mais um pio. Sem despedir-se, meio atordoado, meio assustado, botou o rabo entre as pernas, saiu de fininho e nunca mais se ouviu falar dele.
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Adaptação do texto Fábula de los cerdos asados o la reforma de la educación, no livro Juicio a la escuela, Buenos Aires: Humanitas, 1976

domingo, 26 de julho de 2009

Ocaso de Uma Cidade


Retratos de um modelo econômico falido (Yves Marchand e Romain Meffre)


Uma reflexão baseada em documentação histórica e jornalística, imprescindível às pessoas de Ilhéus nesses dias difíceis: o que resta de uma cidade outrora rica depois de um processo de decadência economica? Onde pode acabar? Aos mais preocupados, recomenda-se calma. Não é o caso, pelo menos ainda, nem de Ilhéus nem de nenhuma cidade da Bahia ou do Brasil, embora Ilhéus vá voltar ao texto alguns parágrafos abaixo.

A cidade em questão é Detroit, nos Estados Unidos. Outrora conhecida como a “Capital do Automóvel”, o que é Detroit hoje?

Algumas informações.

Detroit é a área metropolitana mais degradada dos EUA. Uma volta por bairros residenciais no centro lembra muito Nova Orleans depois do Katrina - sendo que Detroit não foi varrida por um furacão. Há casas abandonadas por toda parte, e muitas foram ocupadas por viciados em crack. Segundo cálculos da prefeitura, são cerca de 44 mil casas vazias. Muitas foram depenadas por ladrões que vendem os destroços nos ferros-velhos.”. A matéria ainda relata que a prefeitura de Detroit hoje não tem dinheiro sequer para demolir as casas abandonadas. (leia aqui).

A taxa de pobreza, 28,5%, é a mais alta do país.” (leia aqui).

Nas duas últimas décadas perdeu 32% de sua população. A indústria automobilística encolheu tanto, em sua área, que a prefeitura ficou sem arrecadação de impostos suficiente para administrar os problemas que restaram. O número de assassinatos cresceu de 33 por 100 000 habitantes em 1970 para 59 por 100 000 em 1991. Detroit não conseguiu atrair novas empresas.” (leia aqui).

Em março foram 663.000 empregos a menos em quinze meses consecutivos.”. (leia aqui)

O caso de Detroit é impressionante. Já se fala no termo “Detroitificação” para se referir à degradação urbana (leia aqui).

A pergunta que se faz é: como uma das cidades mais ricas do mundo acabou chegando à situação atual, com os piores indicadores econômicos e sociais dos Estados Unidos?

Há mais algumas informações que ajudam a entender.

"Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver.” (Leia aqui).

A situação de Detroit já vinha declinando há tempos, mas se agravou desde o ano passado. O primeiro grande golpe veio nos anos 70, com as crises do petróleo. As pessoas começaram a comprar mais carros japoneses, que estavam com uma qualidade melhor - antes tinham má fama - e gastavam menos combustível. Em 1980, veio outra recessão, que de novo derrubou a indústria.” (leia aqui).

Então o resumo da história recente de Detroit da conta de que se tratava de uma cidade muito rica, que baseava sua economia na indústria automobilística. Depois se começou a perceber sinais claros de que as coisas não estavam mais acontecendo como desejável: população decrescente, aumento do desemprego, piora dos indicadores de violência, fechamento de empresas, etc. Os sintomas estavam ali, muito claros. Bastava uma decisão estratégica, mudando os rumos da cidade. Detroit não precisava encontrar um ocaso tão triste.

Um pequeno mosaico com parte de um trabalho fotográfico dos franceses Yves Marchand e Romain Meffre que ilustra a decadência de Detroit pode ser visto acima. Ali retrata-se respectivamente uma casa, que já foi bonita, totalmente abandonada, um Teatro que há anos não tem mais como receber espetáculos, os restos de prédios onde outrora funcionaram empresas e escritórios e o saguão de um grande hotel que não funciona mais desde que os hóspedes pararam de aparecer. Tudo em ruínas, mas mostrando tudo o que aquela cidade já foi um dia. Hoje simplesmente não há como o poder público e os cidadãos que restaram garantir o mínimo funcionamento da estrutura urbana. É o retrato da “detroitificação”. Pode-se ver mais fotos aqui.

O fato concreto, porém, é que o processo que destruiu a “Capital do Automóvel” guarda semelhanças com o que se vê hoje na “Capital do Cacau”. Mas também guarda, felizmente, importantes diferenças.

Ilhéus também está apresentando, como aconteceu em Detroit, os sinais de sua decadência econômica: fechamento de empresas, aumento do desemprego, êxodo populacional, piora da violência e da miséria, incapacidade de investimento do poder público em função da queda da arrecadação.

Talvez estes sejam sinais preocupantes, sintomas percebidos nos primeiros anos do processo que pode leva-la à “detroitificação”. A pior parte é que esse processo não demora muito a ser concluído: basta ver que a riquíssima cidade americana levou menos de 30 anos para liquidar toda a sua imensa infra-estrutura econômica e social.

Mas é importante que se deixe claro: Ilhéus não é Detroit. Porque ao contrário da cidade americana, em que “Os sinais de fracasso do modelo econômico já estavam ali, mas ninguém queria ver” em Ilhéus há inúmeros alarmes disparando, pessoas e organismos alertando para o problema. Além disso, ao contrário do que aconteceu em Detroit, Ilhéus possui uma alternativa ao modelo econômico que se esgota. O Complexo Intermodal, em que pese todos os riscos que precisam ser evitados, considerados e compensados, efetivamente é uma chance concreta reverter esse processo. Isso parece estar ficando cada vez mais claro para governos, empresas e cidadãos. O caminho está traçado, e quiçá será trilhado.

Ilhéus não se “detroitificará”.

Vai estar sempre bem na foto.

sábado, 25 de julho de 2009

Tem que mudar


Obviamente o modelo econômico da região sul da Bahia está falido. Obviamente a estrutura sócio-econômica da região está se dissolvendo.

Mas com essa imagem o fotógrafo Duda Lessa capturou a essência desse argumento. Uma criança, seu amigo cachorro e o que ela imagina ser um escritório, um assento confortável e um computador. Na sua fantasia, ela vê o escritório e nem nota o lixão.

"Inclusão Digital"

Em alguns anos a fantasia pueril dará lugar à dura realidade do adolescente. Aí ela esquecerá o escritório e viverá a realidade do lixão.

Que futuro espera crianças como esta? A quem interessa não mudar isso?

A foto, segundo Pimenta na Muqueca, foi obtida na Comunidade de Bananeira, Itabuna.

Uma obra de arte.

O Azar e a Sorte

O acidente de Felipe Massa nos treinos para o GP da Hungria foi mesmo impressionante. Não tanto pela violência, que já se viu cenas muito mais fortes. Tampouco pelos danos, pois a concussão cerebral e a pequena cirurgia para retirada de fragmentos de ossos quebrados foi realmente muito pouco perto do que poderia ter sido.

É um misto de azar e sorte.

A probabilidade de uma peça – tudo indica que era uma mola – que se desprendeu de um carro que andava centenas de metros à frente ferir o crânio de um piloto que vem atrás é infinitamente pequena. É necessário que a combinação perfeita de cota, abscissa e afastamento, seja obtida aleatoriamente, ou seja, há infinitas direções para onde ela pode ser lançada, e pouquíssimas conduzem à viseira do capacete de um outro piloto. Porque há uma grande chance de o piloto que está atrás veja o objeto e desvie. Porque a própria chance de uma peça se soltar é muito remota.

Mas aconteceu. Veja na imagem abaixo, a peça se dirige inexoravelmente para o capacete de Massa. Um azar muito grande. Um acidente imprevisível, que de certa forma lembrou o fim de Ayrton Senna, bem como o acidente do jovem Henry Surtees alguns dias atrás, em eventos tão improváveis quanto este.

É a lei dos grandes números: por mais ínfima que seja a probabilidade de um evento, ele acabará ocorrendo se for feito um número suficientemente alto de tentativas.



O ponto em que a peça atingiu o capacete, pode-se ver na fotografia abaixo, também não deixa dúvidas: míseros 10 centímetros para cima, ou para o lado seriam suficientes, e Felipe teria escapado incólume.



Mas ao mesmo tempo deve-se considerar a sorte do brasileiro. Considerando a fotografia acima, o choque teve mesmo uma intensidade muito grande, considerando que o capacete do piloto é construído para suportar o impacto de (alguns) projéteis de arma de fogo. Dessa forma, viesse a peça numa trajetória um pouco mais abaixo, entre o capacete e a carenagem do carro, e encontraria o pescoço ou o peito do piloto, protegidos apenas pelo tecido do macacão anti-incêndio. Considerando o estrago promovido no capacete, é fácil imaginar um afundamento de traquéia, uma artéria principal rompida, costelas, coração ou pulmões dilacerados. Nesse sentido, foi mesmo muita sorte.

O acidente de Felipe provavelmente vai levantar inúmeras críticas aos aparatos de segurança nos autódromos, bem como surgirão inúmeras propostas de mudança de regulamento, de preparo de carros para não acontecerem novas peças soltas, de proteção dos pilotos.

Mas não adiantará: automobilismo é um esporte de alto risco. Simples assim. Os pilotos, mesmo os que são apenas bons, como é o caso de Felipe Massa, são revestidos de glamour, ganham muito dinheiro, fazem inúmeras viagens pelo planeta inteiro, freqüentam os círculos sociais mais elevados. Encontram tudo o que há de bom e de melhor no mundo. Mas também podem encontrar o erro, o acidente, talvez a morte. A cada corrida, a cada treino, a cada curva.

Porque acelerar a 300 km/h, com as nádegas a menos de 15cm do chão, dentro de um pequeno automóvel que pesa pouco mais de 600 kg, que na verdade é uma montagem de inúmeras peças metálicas, acompanhado de outros 19 bólidos similares que dividem o mesmo pedaço de asfalto não é, definitivamente, a maneira mais segura de ganhar a vida.

Felipe Massa não disputa o GP da Hungria, mas vai ficar bem de novo, é o que tudo indica. Depois voltará a correr, e a se arriscar por uma vitória, por uma posição, por um décimo de segundo. É o que os pilotos fazem. Eles não conseguem ficar longe das pistas.

O perigo também não.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Série Tabuleiro da Bahia: Tabuleiro da Baiana



Inspiram o nome dessa série de coisas maravilhosas da Bahia. Estão espalhadas por toda parte, contaminando todos os olfatos e paladares com as deliciosas tentações que trazem em seus tabuleiros.



Muitas calorias? Pode ser. Mas com certeza o prazer sublime que elas proporcionam com suas iguarias compensam quaisquer danos à silhueta. Maravilhas que não encontram par por aqui. Só podem ter sido trazidas de longe. Pelos Deuses. Da África!



A iguaria mais conhecida, e mais requisitada por todos, é o Acarajé. Feito com massa de feijão fradinho, frito no dendê, o sabor é ímpar. Os recheios são diversos, passando pelo Vatapá, Salada, Camarão e - muita calma sessa hora - Pimenta! Acarajé que, aliás, é também conhecido pela lenda da oferta "O freguês quer quente ou frio?". Quando, incauto, o freguês escolhe "quente", recebe a iguaria inundada de pimenta.

Mas eu mesmo nunca vi nenhuma baiana fazer tamanha maldade.



O Abará, para mim a mais saborosa das tentações do tabuleiro da baiana. De acordo tanto com Dona Margarida quanto com Dona Cícera, o Abará na verdade é basicamente a massa do acarajé, só que cozido e enrolado em folha de bananeira.



Depois de provar as iguarias do feijão, como sobremesa pode-se ter o Bolinho de Estudante,



ou então a famosa "Cocada da Baiana".



Sirvamo-nos!

Quem não chora não mama

As recentes gritarias virtuais que se viu em Ilhéus a respeito do Pólo de Informática (leia aqui) e do aeroporto (leia aqui) parecem ter surtido algum efeito. Pois eis que o Governador do Estado aceitou receber os representantes do Pólo para discutirem alternativas (leia aqui) bem como procurou o presidente Lula para encontrar soluções para o aeroporto (leia aqui).

É a confirmação do velho ditado: quem não chora não mama. Não adianta esperar que os governantes tenham a iniciativa pela comunidade. Governos só funcionam sob pressão. Os pensadores franceses Rousseau e Montesquieu provavelmente sabiam disso quando propuseram os patamares onde se sustenta a maior parte das democracias modernas.

Mas a comunidade de Ilhéus não se deve considerar saciada. Pelo contrário. O que se ouviu até agora foi algo como “está bem, vou preparar sua mamadeira”. Mas ainda não se provou uma gota do leite pelo qual tanto se chora.

Basta observar com atenção: por um lado “o presidente Lula garantiu que vai desatar o nó do aeroporto”, mas não falou em datas, não disse como. Ouvem-se as mesmas garantias que já se tem ouvido desde 2007. O presidente confirmou apenas que convocaria uma reunião com as companhias aéreas. Nada foi dito sobre a instalação de novos instrumentos, que talvez pudessem resolver o problema, pelo menos provisoriamente. Não. Desse leite ninguém ainda provou.

Por outro lado, o governador Wagner acenou com um pacote de investimentos para o Pólo de Informática, com linhas de crédito para algumas empresas e melhorias na infra-estrutura. Mas os empresários, na pessoa do Sr. Gentil Pires, alegam que não é suficiente, e apresentaram uma contraproposta ao governo do estado. Não há respostas ainda. Mais uma mamadeira que ainda não está oferecida.

A importância do aeroporto e do Pólo de Informática para Ilhéus transcende o conceito de estratégico. É simplesmente vital. Com o aeroporto operando sob as intensas restrições impostas pela ANAC, toda a estrutura turística (do bom turismo, que engrandece ao invés de parasitar a cidade) está, a cada dia mais, se tornando inviável. As operações industriais, não só em Ilhéus, mas em toda a região, foram fortemente afetadas. O próprio Pólo de Informática sofreu perdas, pois as operações de carga e descarga de equipamento eram feitas durante as horas das madrugadas em que as aeronaves permaneciam no aeroporto. Agora, precisam ser feitas nos minutos de duração de uma escala, o que inviabiliza o embarque de muitos tipos de equipamento.

E o Pólo de informática representa mais da metade da arrecadação de ICMS da prefeitura de Ilhéus. Um quinhão particularmente representativo, sem o qual as finanças do município provavelmente não sobrevivem. Além disso, garante algumas centenas de empregos, o que definitivamente não pode ser desprezado.

Finalmente, caso os problemas imediatos – aeroporto e Pólo de Informática – sejam superados, é preciso que se chore também pelo projeto que pode representar um efetivo avanço econômico e social para a região: o Complexo Intermodal. O governador e o presidente reforçaram a importância estratégica do projeto – o que já é uma obviedade para quase todas as pessoas – mas não se apresenta detalhes como cronograma, valores, projetos de engenharia, etc.

Quem não chora não mama. Prometeram preparar a mamadeira, mas ela ainda não chegou. A fome é maior a cada minuto.

Tem que chorar mais.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Série Tabuleiro da Bahia: Chapada Diamantina

O que realmente me faz um baiano fajuto: jamais conheci a Chapada Diamantina. Um grave defeito, que pretendo corrigir em breve.

Pois são poucos os lugares aos quais Deus legou tanta beleza. Penso que todo baiano tem que se orgulhar. A Chapada é a Meca da Bahia, todos temos que conhecer, visitá-la pelo menos uma vez na vida.


Lençóis




Cachoeira da Fumaça


Cachoeira do Canto Verde


Poço Azul


Poço Encantado


Gruta da Torrinha


Um banho (para quem tem coragem de encarar as águas gélidas)!


Prá esquentar o frio, que a água e a noite lá são deliciosamente geladas, uma das melhores cachaças do Brasil: Abaíra

terça-feira, 21 de julho de 2009

Conforme enviado ao CNJ

Recebi uma cópia desse texto que, segundo o autor, foi enviado ao Conselho Nacional de Justiça.

"Caros senhores. Dirijo-me a vossas senhorias porque, conforme divulgado em sua página na Internet, na lista de competências do CNJ consta, entre outras, a seguinte: 'Receber reclamações contra membros ou órgãos do Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados;'

Imagino que os cartórios de Ilhéus/Ba sejam classificados como "prestadores de serviços notariais".

Isto posto, gostaria de saber se o procedimento dos cartórios de Ilhéus/Ba no Fórum Epaminondas Berbert de Castro é adequado e justificado.

Há algum tempo foi adotado um sistema de distribuição de um número limitado de fichas.
Primeiro, o cidadão deverá chegar cedo para conseguir uma ficha e lá aguardar com paciência a distribuição.


Segundo, a depender do número da ficha, o cidadão perderá todo o período da manhã ou da tarde.

Bem pior é que o expediente do serventuário corresponde ao intervalo de tempo das 12:00 às 18:00 horas. Não obstante, caso tenha-se terminando o atendimento das fichas antes das 18:00 horas, os serviços são encerrados e nenhum cidadão pode ser atendido, ainda que adentre ao cartório durante o horário de expediente.

Com essas medidas o acesso das pessoas aos serviços fica imensamente prejudicado, para não dizer inviabilizado.

Gostaria de saber se tal procedimento é aceitável e, caso não seja, como se deve proceder para formalizar uma queixa a respeito.

Grato."

Não sei se o CNJ é o órgão adequado para esse tipo de queixa. Mas sei que a qualidade do atendimento dos cartórios de Ilhéus está insuportável.

Rápida visão do Trivela Ilhéus

Tenho visto, ouvido e lido muitos comentários a respeito do evento Trivela, da Banda Asa de Águia, em Ilhéus. A bem da verdade eu mesmo, particularmente, não me interessaria em sair da minha casa para assistir ao Asa. Mas já fui capaz de coisas assim no passado. Hoje prefiro shows de MPB, como o que Lenine fez algumas semanas atrás.

Mas gosto é igual a... nariz! Cada um tem o seu e faz dele o que acha melhor. O que eu queria fazer é um balanço, muito superficial posto que me faltam informações as mais elementares. Será que valeu à pena?

Dessa vez, acabando rápido com o suspense, eu devo dizer que a mim me parece que sim. Valeu à pena. Porque os relatos de problemas que eu tenho tido notícia dão conta de problemas intrínsecos.

Explicando mais: quando acontece um evento desse porte numa cidade pode-se ter dois tipos de problemas: os extrínsecos e os intrínsecos.

Os problemas extrínsecos são os que são gerados externamente ao evento, afetando a comunidade onde ele se inseriu. Por exemplo, o colapso do trânsito de Ilhéus causado pelo infeliz show feito pelo Harmonia do Samba no Boca Du Mar foi um evento extrínseco. Penalizou toda a comunidade.

O poder público precisa ser rigorosamente atento e inflexível a problemas dessa natureza: transporte, educação, patrimônio, saúde, direitos individuais dos demais cidadãos. Nada disso pode ser perturbado por motivo qualquer que seja. Acho que aquele episódio do Boca Du Mar foi uma excelente lição. Tomara que tenha sido aprendida.

Os problemas intrínsecos são os que ocorrem internamente, e dizem respeito à relação entre os promotores e os consumidores do evento. Nesse caso o Poder Público precisa estar atento, mas apenas para garantir ou reparar os direitos individuais de cada um dos consumidores.

Não que tais problemas sejam irrelevantes. É que há uma diferença muito grande quando vemos que as vítimas, nesse caso, são pessoas que efetivamente escolheram estar ali. Ou elas ou seus responsáveis. Uma pessoa foi furtada no Trivela? Sinto muito, sinceramente. Mas não podemos esquecer que essa pessoa escolheu sair de sua casa e ir ao Trivela. Diferente da pobre mulher que não chegou a tempo ao almoço de aniversário do filho em Salvador porque não conseguiu pegar o ônibus, vítima do engarrafamento causado pelo show no Boca Du Mar.

Dessa forma, acho que quem quer que tenha se sentido lesado pelo Trivela deve procurar se entender com os organizadores, e eventualmente a Justiça. E evidentemente os organizadores precisam cuidar para que tais problemas sejam minimizados em eventos futuros. Para o bem do próprio evento.

Mas considerando que as informações que tenho recebido dão conta de que os transtornos à cidade foram muito pequenos (se houveram) e que houve significativo aumento da atividade econômica ligada à prestação de serviços (alimentação, transporte, hospedagem), acho que afinal o Trivela Ilhéus valeu à pena. Provavelmente é muito bom que eventos assim se fortaleçam na cidade.

Só não contem com meu ingresso. Eu prefiro sossego.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do Amigo

Hoje é dia do amigo. Quase ia me esquecendo.

Mas amigo que é amigo não liga para essas coisas. Amigo é uma coisa que a gente coleciona pela vida. E não perde mais, pode perder contato, ficar distante. Amizade não dá bola para as leis da física, não liga para tempo e espaço.

Um brinde a todos os meus amigos. Os que amealhei ontem, os que conquisto hoje e os que encontrarei amanhã.

Série Tabuleiro da Bahia: Ilê Ayiê

Quando eu fazia graduação na Paraíba um colega - seu nome é Stênio - decidiu que eu era "um baiano fajuto".

Stênio esclareceu os motivos - eram cinco - pelos quais ele me considerava uma mera falsificação de baiano: a) não votava em ACM; b) não torcia para o Bahia; c) não nascera em Salvador; d) não sabia dançar; e) não era "negão".

Evidentemente era uma brincadeira, pois ele estereotipava o perfil típico do baiano. Ter uma baianidade fajuta pelos motivos que Stênio citava não me incomodava tanto: jamais achei que ACM mereceu meu voto, tampouco jamais cogitei trair o Vitória, meu único time de coração. Não tenho nada contra Salvador, acho uma das metrópoles mais bonitas e interessantes do mundo. Mas nunca desejei ter nascido lá.

Doía-me, porém, as duas alegações finais que Stênio fazia; nunca aprendi a dançar e, apesar de trazer em mim fortes (e orgulhosas) evidências de minha ascendência negra, a verdade é que minha pele sempre foi um tanto pálida demais para o meu gosto.

Talvez essas duas coisas - a cor da pele e a habilidade com a dança - estejam relacionadas. Eu não tenho nenhum dos dois. Resta-me invejar, desejar, aplaudir.

O mais belo dos belos. Ilê Ayiê.

Aqui um pouco da beleza que "Só se vê no Ilê".


Ilê, pelo Ilê: Belo!

domingo, 19 de julho de 2009

Instrumentos Aeroportuários

Acho que a discussão a respeito do aeroporto de Ilhéus ainda não alcançou a dimensão que precisa. Alguns interlocutores tem-me sugerido que não há o que fazer com o atual aeroporto, e que teremos que esperar o próximo.

De fato, as soluções propostas para o atual aeroporto de Ilhéus encontram forte limitação na falta de espaço e estrutura, já que é um equipamento realmente antigo. Apesar de não entender nem justificar a postura da ANAC a respeito do caso, é fácil perceber isso.

Mas também não é verdade que não há nada que possamos fazer. Porque há alternativas, que precisam ser discutidas com a ANAC e com a INFRAERO. Por exemplo, existem dois equipamentos que podemos estudar para instalação no aeroporto. O ILS e o VOR/DME.

O ILS (sigla de Instrument Landing System) é um instrumento que permite o piloto saber, mesmo que não consiga ver (por conta de chuva, neblina etc.) se está alinhado ou não com a pista (por exemplo, no caso de Ilhéus, evita que ele vá trombar com o OPABA ou pousar na praça do Pontal) bem como se seu ângulo de descida é adequado.

O ILS consiste de duas estruturas: o localizador e o glide slope. O primeiro informa o alinhamento, enquanto o segundo informa o angulo de descida.

Uma fotografia desses instrumentos está na figura abaixo.

A instalação do ILS daria toda a precisão necessária para o pouso no aeroporto de Ilhéus. Mas infelizmente esta alternativa não é simples de ser implementada. Porque o Glide slope precisa estar localizado a 1000 pés (cerca de 333 metros) da cabeçeira da pista. Não há espaço para isso, a não ser que possa ser instalado no mar.

A segunda alternativa é o VOR/DME (VOR vem de Very High Frequency Omnidirectional Range e DME vem de Distance Measuring Equipment). Estes são equipamentos de rádio que emitem ondas radiais que permitem o piloto saber qual o ângulo que ele se encontra com relação ao pólo norte magnético. Além de estimar a distância. Com essa informação o piloto pode fazer o alinhamento com a pista (por exemplo, no aeroporto de Ilhéus, se ele está a 290 graus, então está alinhado com a cabeçeira da pista, sentido Sapetinga-Oceano).

O VOR possui uma acurácia inferior à do ILS, ao se considerar procedimentos de aproximação e pouso. Mas é bastante razoável, com erro máximo de 1,4 graus, sendo que em 99,94% do tempo esse equipamento opera com erro inferior a 0,35 graus. Perfeitamente seguros.

E o melhor: não há muita dificuldade técnica em se instalar o VOR/DME no aeroporto de Ilhéus. A figura abaixo dá uma idéia do que é o equipamento.


Trata-se de uma simples estação, que abriga a estrutura necessária para transmitir as ondas radiais para direcionamento das aeronaves. Salvo melhor juízo, parece-me perfeitamente possível de ser instalado no aeroporto de Ilhéus.

A instalação desse equipamento reduziria os riscos nas operações de aproximação e pouso, e provavelmente permitiria que o aeroporto voltasse a operar em condições adversas (chuva e neblina) e vôos noturnos.

Assim, de acordo com essas poucas informações, parece-me ser perfeitamente possível a restauração plena das operações do aeroporto, com os vôo noturnos que permitiam o embarque e desembarque de equipamento para o Pólo de Informática e para muitas outras indústrias da região. Pode-se manter em operação o velho e bom Jorge Amado, enquanto esse incerto "novo" aeroporto é construído.

Pode ser uma questão de mobilização das pessoas e da sociedade.

E vontade política do governantes.

Série Tabuleiro da Bahia: Dorival Caymmi

A voz preguiçosa, mas de beleza singular. As composições perfeitas em letra, melodia e arranjo. Sofisticação absoluta. Com simplicidade.

Ninguém cantou tanto, e tão bem, a Bahia. Na Bahia.

Dorival Caymmi!

Aqui aprendemos a fazer o Vatapá, num trecho da minissérie "Dona Flor e seus 2 Maridos" que foi montada para televisão pela Rede Globo, baseada no romance homônimo de Jorge Amado. Música de Caymmi, com Thalma de Freitas aguçando nossas papilas. Todas elas.


O que é que a baiana tem?


O amor pela Marina. Todos os homens precisamos ter uma Marina a quem declarar nosso amor! Eu tenho. Mas o nome dela é outro.


E o Mar. Que é belo. E que mata também.


sábado, 18 de julho de 2009

Esclarecendo a gravidade

O blog "Sarrafo na Madrugada" faz parte de minhas leituras (quase) diárias. Tenho um enorme respeito pelo "Sarrafo", e já o defendi publicamente algumas vezes. Faz parte dos links de leitura sobre Ilhéus e região que eu recomendo (não reciprocamente, diga-se de passagem).

O que não me impede de, democraticamente, discordar de muitas coisas que há ali.

Recentemente o "Sarrafo" republicou uma postagem em que ele dá a entender (pelo menos a mim) que os problemas do aeroporto são transitórios, e que "Nosso Aeroporto não vai acabar, os horários noturnos não eram para atender aos passageiros e sim adequar suas linhas. As empresas de informática, tem experts em logística, que saberão contornar este problema com certa facilidade. Que venham novas empresas, precisamos de competitividade e não de monopólio.". Leia aqui a postagem competa.

Em primeiro lugar eu manifesto minha concordância. De fato, acho muito difícil o aeroporto acabar. Isso não deve acontecer. Porque ainda serão mantidos alguns vôos regionais como os da TRIP (e outras empresas como a Passaredo), ligando Ilhéus a Salvador e alguma outra cidade do sudeste. Mais ou menos da maneira que opera hoje o aeroporto de Vitória da Conquista.

O atual aeroporto de Conquista, porque segundo promessa do governador do estado, "a cidade de Vitória da Conquista regozija a notícia de que o município ganhará um novo aeroporto. O anúncio foi feito pelo governador Jaques Wagner. Ele confirmou que o novo aeroporto vai custar R$ 100 milhões de reais" (leiam aqui). Ou seja, o cenário - não de todo improvável - dá conta de um aeroporto novo, custando 100 milhões de reais, em Vitória da Conquista e absolutamente nenhum investimento no aeroporto de Ilhéus.

O sucateamento do aeroporto de Ilhéus mais a construção do novo aeroporto de Conquista vai inverter o fluxo de passageiros, que antes saíam de lá para embarcar aqui. Nós é que teremos que ir para Conquista se quisermos embarcar por empresas grandes.

E de novo concordo com o Blog "Sarrafo" quando ele diz que as empresas de informática vão encontrar soluções. De fato, encontram. Estão indo para Minas Gerais (leiam aqui) e deixando um saldo de, por enquanto, 550 desempregados na cidade (leiam aqui).

O que não concordo com o "Sarrafo" é que, frente a essas informações, não há como manter uma postura apática. O que está acontecendo com Ilhéus, e no caso particular, com seu aeroporto, é muito grave.

Porque o futuro, a serem mantidas as atuais tendências, é ver o Jorge Amado reduzido a um mero aeródromo, com parcos vôos operados por empresas regionais em aviões pequenos, e toda a estrutura industrial e turística que um dia existiu ao seu redor inteiramente desmontada.

Combativo como é, estranha-me um pouco que o "Sarrafo" não se engage na luta para cobrar das autoridades a instalação urgente de instrumentos que permitam nosso aeroporto operar normalmente.

Talvez o "Sarrafo" tenha um entendimento melhor, e mais tranquilizador.

Tomara.

Série Tabuleiro da Bahia

















Série Tabuleiro da Bahia: Armandinho

Hoje amanheci com uma saudade enorme da Bahia. São as coisas que me inflam a alma com orgulho, prazer, banzo. A Bahia tem quase toda a minha identidade, a bem da verdade. A parte que não é baiana é paraibana.

Na Bahia nasci, me criei, aprendi.

A Bahia de Vitória.

Por isso estou começando uma série nova: Tabuleiro da Bahia. Vou oferecer aqui no meu blog as melhores coisas que a Bahia tem.

No meu tabuleiro da Bahia tem muita coisa boa. Hoje vou mostrar uma delas: a maior referência musical do carnaval da Bahia. Para mim, do carnaval de todo o Brasil. Instrumentista magnífico, um mago da guitarra baiana.

Armandinho Macêdo!

Vejamos algumas de suas performances.

Bolero de Ravel (lembranças da Praça Castro Alves de Carnavais de Outrora).



Brasileirinho.



Marchinhas de Carnaval.



Czardas.



No frevo rasgado do Carnaval de Salvador.



Ou simplesmente brincando, derramando talento em todos.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Instrumentos do Aeroporto?

Tem vezes que a gente se depara com um problema aparentemente sem solução. Outras vezes a gente tem convicão de que possui a solução, mas não conseguimos convencer o mundo. Nem sempre estamos certos. Quando eu era adolecente eu tinha certeza de que sabia a causa e a solução de todos os problemas da humanidade. Envelhecer traz muitas lições. Humildade é uma delas.

Mas também nem sempre estamos errados. Uma das coisas que aprendi é que perguntar, debater, ouvir, ponderar são excelentes hábitos. Faz-nos mais sábios. Permite-nos acertar mais. Por isso manifesto todas as minhas dúvidas sem temores.

Num comentário recente eu propus que investigássemos o porquê de não se cogitar ter, em Ilhéus, instrumentos VOR/DME e ILS para que se normalizem as operações no aeroporto.

Algumas pessoas alegaram que o aeroporto de Ilhéus possui VOR. Não tenho a informação completa a esse respeito. Talvez seja o caso de um esclarecimento oficial. Porque infelizmente não é isso o que alega o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA).

Vejam o que eles diziam em 2007: "No Brasil não existem aparelhos ILS da terceira geração. O ILS-2 está presente em apenas três aeroportos, segundo a Aeronáutica: Guarulhos, Galeão e Curitiba. Os demais aeroportos de grande porte têm ILS-1. A maioria, porém, só possui o instrumento em uma das cabeceiras da pista. Em aeroportos menores, mas com vôos regulares, o auxílio ao pouso é feito com instrumentos mais antigos, como o VOR - que tem operação muito mais limitada, por transmissão de sinais de rádio em freqüência VHF. Mesmo nesses casos, o diagnóstico dos pilotos e das companhias aéreas assusta: em Aracaju e São Luís, que não têm ILS, nem o VOR está funcionando adequadamente. O documento do Snea pede o 'restabelecimento integral' do VOR em São Luís e em Aracaju. Em Ilhéus, o equipamento sequer está disponível."

Pode-se acessar aqui a nota completa.

Ou seja, a não ser que tenha havido a instalação desse equipamento entre 2007 e 2009, o aeroporto de Ilhéus ainda não possui VOR. Apenas instrumentos direcionais.

A minha modesta pergunta então ainda é procedente: porque não se cogita a instalação de intrumentos mais avançados no aeroporto de Ilhéus para que as operações do aeroporto possam ser normalizadas? O que a ANAC e a INFRAERO já comentaram a respeito? Deputados, prefeito, governador, alguém já questionou isso?

Eu não sei a resposta. Se alguém souber, ainda continuo curioso.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Fim do Aeroporto

Publicou-se em diversos canais (por exemplo aqui). Finalmente as notícias se esclarecem, e se confirma o que já se havia vaticinado no meu blog (leia por exemplo aqui, aqui e aqui). A decisão da ANAC já estava tomada, e era fácil ver que seria irreversível. As restrições ao aeroporto de Ilhéus são definitivas. Não haverá a retomada do "velho" Jorge Amado, operando como antes.

Se por um lado há motivos técnicos que justificam as restrições, por outro houve uma lista imensa de solicitações feitas à prefeitura, todas cumpridas, mas sem efeito prático. Pareceu uma brincadeira de mau gosto. Para dizer o mínimo.

Congonhas e Santos Dumont são aeroportos cujas geografias de entorno são infinitamente mais complexas e perigosas, com montanhas e arranha-céus, além de contar com pistas curtas. Não obstante, tais equipamentos não sofrem restrições porque possuem instrumentos de auxílio (VOR/DME, ILS). Há alternativas de instalação de instrumentos similares para que o aeroporto Jorge Amado volte a operar plenamente. Mas curisamente isso nem sequer é cogitado para o aeroporto de Ilhéus. Nem pela ANAC nem pela Infraero.

A idéia, então, parece ser mesmo encerrar o aeroporto de Ilhéus. E isso será conseguido inviabilizando ao máximo sua operação.

Mas ao mesmo tempo a verdade é que o aeroporto de Ilhéus não tem espaço para estacionamento, nem para novas companhias aéreas, nem para a alfândega, nem para alto volume de cargas. Não serve para as necessidades que essa região terá nos próximos anos. Independente das restrições da ANAC.

Por outro lado, com o Complexo Intermodal, haveremos de ter um novo Aeroporto. O projeto promete um terminal internacional, com amplo espaço para estacionamento, alfândega, múltiplas companhias aéreas, área de carga, instrumentos sofisticados (os mesmos que não são cedidos para o atual aeroporto). Mesmo os interlocutores com quem tenho debatido, e que são contra o Complexo Intermodal, reconhecem a importância do novo aeroporto.

O novo aeroporto não deixará Ilhéus sentir saudades do velho.

Se sair.

Porque se não acontecer, e com a irreversibilidade da decisão da ANAC, então o Turismo (o bom turismo, não o turismo predatório e parasitário) e o Pólo de Informática continuarão sua inexorável derrocada rumo à extinção. E a ZPE não será mais do que um pálido esboço.

Curiosamente salva-se, em parte, a região de Porto Seguro, porque o aeroporto e a estrutura turística que ali existe são muito mais eficientes do que em Ilhéus. Fico imaginando se os empresários do Pólo já não estão manobrando para que este seja transferido de Ilhéus para Porto Seguro. O mesmo poderia se dar com a ZPE, principalmente se o novo Porto também não acontecer. Seria o xeque-mate, levando a economia das cidades da região ex-cacaueira, que derrete a olhos vistos, ao colapso.

Esse é um dos motivos pelos quais o projeto do Complexo Intermodal pode ser a saída estratégica para Ilhéus, Itabuna e demais cidades da região.

Mas é preciso que aconteça. E que aconteça rápido.

A cada dia que se passa o nó da forca aperta mais.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Pirataria

O problema da Pirataria é um dos quais todos os dirigentes do Brasil, em todos os níveis de poder, fogem. Claro que a pirataria impede a geração de empregos formais. Claro que a pirataria desestimula empresários nos mais diversos setores. Claro que a pirataria diminui a arrecadação dos estados e municípios, bem como da União. Mas ainda assim os governantes literalmente temem lidar com a pirataria. Fogem disso tanto quanto o demônio foge da cruz.

Longe de justificar, é, porém, muito fácil entender os motivos. Basta vermos que a Pirataria é fruto de uma série de fatores.

O primeiro deles é a facilidade. Dúzias de navios abarrotados de produtos piratas saem todos os dias dos países que os produzem (quase oficialmente). A oferta é quase infinita. A rede de distribuição, hoje, supera a de qualquer rede de varejo do planeta.

O segundo é o custo. Os produtos piratas entram no mercado brasileiro normalmente via contrabando. Isso os isenta de impostos. Além disso, a qualidade final dos produtos é, digamos, mais flexível. O que permite produzi-los com uso de material, processos e mão de obra de nível inferior. Dessa forma, o produto pirata é financeiramente muito mais competitivo.

O terceiro fator é a condição sócio-econômica da população. A imensa maioria das pessoas que trabalham “na ponta”, ou seja, vendendo os produtos piratas aos consumidores, atuam como camelôs. Normalmente sem direito a férias, assistência e previdência social, aposentadoria. Seguramente longe da condição ideal. Logo, são pessoas que não encontram muitas alternativas atraentes para substituir essa atividade. Não se sabe o que fazer com eles, caso sejam impossibilitados de continuar vendendo seus produtos. Em cidades como Ilhéus, onde a economia derrete a olhos vistos, esse fator ganha contornos particularmente dramáticos. O comércio pirata é muito maior do que o comércio formal. Por exemplo, onde se adquire DVDs e CDs originais na cidade? Já procurei e não encontrei. As opções são o Bompreço e as Americanas em Itabuna. Ou os sites na Internet (normalmente é mais barato).

O último fator é a atuação da Justiça. Sendo uma atividade ilegal, espera-se uma ação efetiva da polícia na repressão, e da Justiça na sanção. Tal, porém, não se dá.

Entretanto, é extremamente complicado se tomar qualquer ação governamental realmente efetiva contra a pirataria. Porque não dá para tratar todas as atividades piratas da mesma maneira, tampouco as pessoas que trabalham nisso. Porque não podemos controlar os aspectos do marketing desses produtos. Porque não podemos ser insensíveis aos aspectos sociais. Porque a capacidade de ação do estado não é suficiente.

Uma coisa de cada vez.

Não é possível que consideremos a nocividade de todos os produtos piratas como um mal comum, indistinguível. Obviamente o comércio de CD pirata é ruim. O de DVD pirata também. Mas pessoas comprando remédio pirata é muito pior. O mercado de produtos piratas é extremamente diversificado. Passa por cosméticos, roupas, calçados, produtos químicos, combustíveis e até peças para automóveis e (impressionante!) aviões. Nesse caso, justifica-se o fato de a Polícia eleger certas prioridades no seu combate, posto que não há como atuar contra toda a indústria dos piratas. E aí ouçamos a voz da razão ao responder: qual deveria ser a prioridade? Quem escolheria combater mais efetivamente os DVDs piratas do que, por exemplo, antibióticos piratas?

Também não é possível controlar o marketing dos produtos: consideremos os famosos 4P (product, price, placement, promotion). Além de "alugar" marcas alheias, usufruindo de seus investimentos em promoção (promotion) e produto (product), o marketing da indústria da pirataria é perfeito nos outros dois: distribuição (placement) e preço (price). Pode-se encontrar produtos piratas em quase todas as esquinas do Brasil. Além disso, eles são produzidos, normalmente no exterior, a custo baixíssimo, e ainda não pagam impostos. A indústria pirata aposta na lógica pura e simples do capitalismo: os consumidores (como todas as outras pessoas) sempre desejarão conseguir o máximo possível de vantagem nas transações financeiras. Portanto, os produtos Piratas sempre serão atraentes para as pessoas. E podem ser adquiridos na esquina mais próxima. Isso se dá principalmente no caso de produtos onde há pouca ou nenhuma diferença (perceptível pelo consumidor) de qualidade, como é o caso de CDs e DVDs. Dessa forma, sempre haverá demanda comercial e, por esse motivo, também existirão pessoas se esmerando para atendê-la e lucrar com isso. A indústria da Pirataria é alicerçada numa estrutura de marketing muito sólida.

Da mesma forma, não podemos tratar os camelôs que atuam no comércio informal vendendo produtos piratas da mesma forma que os distribuidores e os produtores. Evidentemente há uma grande diferença. Sendo, entre outras coisas, resultado da própria condição sócio-econômica do Brasil, é fácil ver, na indústria da pirataria, que o vendedor é muito mais vítima do que réu. Impedi-lo de vender CDs e DVDs piratas hoje, sem que lhe seja oferecida uma alternativa, além de ser um ato de injustiça social, provavelmente o levará a buscar alternativas em atividades ainda piores. O tráfico de drogas, por exemplo, recruta pessoas a todo instante. Os índices de criminalidade não param de crescer. Combatendo o camelô de produtos piratas corremos o risco de trocar um pequeno mal por um mal maior.

Finalmente, a constatação mais dura: não há força policial no mundo que seja capaz de coibir satisfatoriamente a comercialização dos piratas. Porque o investimento que os estados teriam que fazer na polícia a fim de habilitá-la a essa missão supera, e muito, a capacidade financeira de qualquer estado do planeta hoje. Simples assim.

Dessa forma, por qualquer que seja o ângulo de análise, do ponto de vista da administração pública o combate à pirataria é uma guerra perdida. Qualquer governante sabe disso. Simplesmente não há alternativas senão em médio e longo prazo.

No futuro. Se o construírmos hoje.

Cabe a denúncia

A proposta desse Blog não é denunciar. É refletir. Reflexões pessoais, para ser mais exato.

Mas como sou o único que está fora de Ilhéus, cabe-me alertar aos leitores: os blogs e sites de notícias da cidade de Ilhéus estão impossibilitados de serem atualizados desde ontem (dia 13/07) devido a uma pane do serviço Oi-Velox em toda a cidade!

Deve ser por isso que o pessoal chama a empresa de "Ui", ao invés de "Oi".

Não há previsão de retorno.

domingo, 12 de julho de 2009

Campanha: O Meu Ouvido não é Penico!!!!!

Notícias recentes dão conta de que alguns automóveis foram apreendidos em Itabuna porque estavam com som alto incomodando as pessoas.

De fato, é inconcebível a prerrogativa que alguns sujeitos arvoram para si de estabelecer o que todas as pessoas que estão ao seu redor vão ouvir, e a que volume. Uma falta de respeito imensurável com todos os cidadãos que se vêem privados de sossego, descanso, intimidade.

O cidadão que põe som de carro exageradamente alto normalmente mostra caráter, inteligência e bom gosto inversamente proporcionais à quantidade de decibéis que ele impõe aos ouvidos alheios. São um tipo de câncer social, que precisa ser extirpado.

É preciso que a Polícia continue impondo-lhes a Lei. E concedendo-nos, a nós, os cidadãos, a Ordem.

Porque somos submetidos a uma verdadeira ditadura, com esses elementos fazendo os ouvidos alheios deglutirem a excrecência que jorra dos auto falantes de seus carros. Uma amostra do que há em seus cérebros.

O humorista baiano Renato Fechine tratou isso com sátira, dando ao dono do carro o tratamento que ele merece. Abaixo pode-se ouvir.



E eu estou lançando mais uma campanha: "O Meu Ouvido não é Penico!!!!!". O logotipo, com a devida permissão para ser usado publicamente por qualquer pessoa que deseje, fica disponível também.

Uma boa idéia

Tá lá no site Pimenta na Muqueca uma sugestão interessante: que a ferrovia oeste-leste seja também usada para transporte de passageiros.

Leia aqui a sugestão num comentário assinado por "UABI".

Não sei se há impedimentos técnicos a respeito. Acho que não. Mas de fato, um trem de passageiros ligando, num agradável passeio pelas serras e pelas matas, as cidades de Jequié, Guanambi e Luís Eduardo Magalhães (entre outras) a Ilhéus, traria pelo menos duas grandes vantagens.

Primeiro, diminuiria o tráfego nas estradas que ligam essas cidades, reduzindo o custo de manutenção das rodovias e a quantidade de acidentes (o transporte ferroviário é muito mais seguro que o transporte rodoviário).

Segundo, fortaleceria o turismo, pois as passagens de trem são muito mais baratas que as passagens de ônibus. Note que o dinheiro que o turista não investe na aquisição da passagem pode ser gasto com seu próprio lazer nas cidades de Ilhéus e Itacaré (entre outras), aumentando a arrecadação dos empresários (gerando emprego e renda) e dos municípios. Também é importante ressaltar que o turista que vem de trem não pode trazer toda a sua infra-estrutura de fora (como fazem os que viajam de carro), sendo portanto fortes candidatos a consumir produtos e serviços em Ilhéus. Mais arrecadação, mais emprego e renda.

Todos esses resultados seriam ainda melhores se a viagem dos passageiros pudesse começar no Centro Oeste: seriam mais turistas, mais estradas preservadas, mais oportunidades.

Essa sugestão já foi posta em prática na Ferrovia Vitória-Minas. Uma viagem muito agradável e barata entre Belo Horizonte e Vitória, que ajudou a fortalecer o turismo na capital capixaba. Vejam vídeos e um documentário sobre a viagem aqui. Para se ter uma idéia, o preço da passagem pode ficar em R$43,00 para cobrir o percurso de 660 km. De ônibus (pelo site da Itapemirim), não sai por menos de R$77,00.

Por tudo e com tudo a ferrovia é um elemento estrategicamente interessante, e pode tornar-se ainda melhor. Um vetor de desenvolvimento para essa região, com múltiplas faces. Imprescindível a uma cidade em vias de entrar em colapso econômico.

Tomara que aconteça.

sábado, 11 de julho de 2009

Duas da Política Nacional. Uma da política regional.

Hoje amanheci na expectativa de assistir aos treinos classificatórios para o GP da Alemanha de Fórmula 1.

Como eu gosto muito de assistir às corridas de carros, essa deveria ser uma manhã feliz. Mas caí na bobagem de ir à internet antes. Aí duas notícias da política nacional e uma da política regional acabaram com a minha felicidade.

Primeiro foi a proposta do ilustre deputado Luciano Castro (PR-RR), apresentado nesta quarta-feira na Comissão Especial de Perda de Mandato (PEC 42/95). Ele propõe que, ao invés de perder o mandato por infidelidade partidária, os deputados tenham o direito de trocar de partido uma vez.

Acho que não se apercebeu, o iluminado deputado, que uma vez é mais do que suficiente. Dá para o deputado sair de um grupo (normalmente da oposição) para outro grupo (normalmente da situação).

Quando isso acontece, frustra-se totalmente a vontade do eleitor, que havia eleito um deputado de um partido de oposição (ou de situação) e vê a representação desse deputado ir de encontro à sua vontade.

Assim, a proposta do eminente deputado simplesmente descaracteriza a luta cidadã pela democracia.

O segundo assunto que me irritou foi sobre o "rumor em Brasília que Lula poderá ser vice de Dilma em 2010. E segundo informações não existe nenhum empecilho legal, a lei permite.".

Não creio que seja legalmente possível. Mas se for, ou seja, se a lei não proíbe, então defendo que ele tenha o direito.

Mas a lei, nesse caso, seria absurda. Porque na prática permite reeleições sucessivas. Porque no caso de afastamento da Dilma o Lula estaria voltando ao mandato. Porque essa lei permitiria que um presidente "fantoche" atuasse como laranja do "verdadeiro presidente" que ainda permaneceria no poder.

Seria um absurdo. Mas toda essa lei que permitiu o expediente da reeleição no Brasil é absurda. Em conteúdo e, principalmente, na forma como foi aprovada. Assim, não me surpreenderia se esse fosse o caso.

Finalmente, a ida do Parque Tecnológico da Bahia para Salvador. Deixando Ilhéus a ver navios. Isso se navios ainda houverem na cidade, pois começo a temer que não haverá Porto para eles.

O Parque Tecnológico como instrumento é estrategicamente muito valioso. Posso citar o caso de Campina Grande, na Paraíba, que em menos de 20 anos se tornou um dos centros mais produtivos de pesquisa tecnológica do mundo. Porque tinha uma boa universidade, e agregou a isso o Parque Tecnológico.

Poderia ser uma boa oportunidade para Ilhéus. Mas foi perdida. De novo.

Ainda há espaço para alguma luta: pode-se tentar trazer uma extensão do Parque para o Sul da Bahia. Mas é necessário articulação e força política. Não sei se há fôlego para isso em Ilhéus.

Vou assistir à Fórmula 1. Eu gosto muito de política. Mas tem dias que é o contrário.

Eu odeio política.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

1 ano!

Hoje faz um ano!

Mais ou menos nessa hora, final da tarde.

O dia mais feliz da minha vida.

Mas que eu não quero viver de novo jamais!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Prometido e Cumprido!

Conforme prometido, e completos hoje 30 dias sem que eu registre um problema grave no abastecimento de energia (pelo menos no meu bairro), retiro a campanha "Eu Compro Muitas Velas por Causa da COELBA" do meu blog.

O post, porém, permanece. Por dois motivos. Primeiro porque outras pessoas podem estar insatisfeitas, e o material publicitário que há ali está à disposição de quem desejar. Segundo, porque a qualquer momento a qualidade do serviço pode voltar a merecer a volta da campanha.

Mas por ora, meu sincero reconhecimento ao pessoal da COELBA.

Série Aberturas

The Wonderful Wizard of Oz

Em português ficou "O Mágico de Oz". Uma das histórias preferidas que eu conto à minha pequena na hora de dormir.

A sua imaginação vai longe ouvindo as aventuras de Doroty e seu cachorrinho Totó que, seguindo pela "Estrada de Tijolos Amarelos" encontram amigos - o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde - e, todos juntos, alcançam o Mágico.

Que naturalmente não é mágico coisa nenhuma.

Um dia ela me pediu prá assistir o DVD. Mas eu nunca vi prá vender. Se alguém puder me ajudar eu agradeço. Mas tem que ser do filme de 1939, com Jude Garland no papel da garotinha, e uma das trilhas sonoras mais espetaculares que eu já ouvi no cinema.

O trailler está aqui. Divirtamo-nos.