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sábado, 30 de novembro de 2013

De Hoje a Oito



Há uma série expressões curiosas que eu frequentemente repito e que causa estranheza em pessoas de fora da Bahia e do Nordeste. Ultimamente uma delas tem me sido frequentemente cobrada, e por isso vou deter alguns minutos divagando a respeito.

De hoje a oito.

Para a maior parte das pessoas, esta expressão é mais do que estranha; é totalmente sem sentido. A alegação, muito simples, é bastante incômoda: quando nos referimos, os baianos, ao dia “de hoje a oito”, estamos falando do mesmo dia que hoje, mas na próxima semana. Desta forma, se hoje é Sábado, então “de hoje a oito” também é Sábado.

O que é estranho para muitos, já que o intervalo entre um Sábado e outro é exatamente uma semana, e uma semana tem sete dias.

Digam de hoje a sete!”, pedem-me alguns interlocutores.

Deixemos momentaneamente de lado o devido respeito às peculiaridades regionais, e à linguagem coloquial. Ocorre que dizer “de hoje a oito” não é estranho, não é um erro aritmético, não é algo que deve ser entendido como mero regionalismo: é uma expressão absolutamente lógica!

O que os não-baianos confundem é a frase “de hoje a oito” com uma soma. Estaríamos, segundo os não-baianos, somando oito dias ao dia de hoje. E, sendo assim uma soma, o “de hoje a oito” de Sábado cairia num Domingo. Um erro aritmético flagrante.

Só que não é assim.

O que escapa a muitos é que “de hoje a oito” não trata de nenhum tipo de soma. É de uma contagem. Eu, pessoalmente, gosto de interpelar meus interlocutores da seguinte forma: “Conte aí de um a oito!”. E, à resposta: “Um, dois, três, ...” eu candidamente emendo: “Se você começa a contar de um a oito pelo um, porque quer contar de hoje a oito começando por amanhã?

De fato, se contarmos - ou enumerarmos - oito dias, a partir de um Sábado, teremos a seguinte sequência: (1)-Sábado, (2)-Domingo, (3)-Segunda, (4)-Terça, (5)-Quarta, (6)-Quinta, (7)-Sexta e (8)-Sábado. Ou seja, “de hoje a oito”, sendo hoje um Sábado, cai exatamente num Sábado.

Não se trata de ignorar o fato de que a semana tem sete dias. Trata-se de considerar isso numa contagem, que não se traduz numa mera operação aritmética.

Tanto é que, para nós baianos, se hoje é Sábado, então o Sábado da semana subsequente à próxima é dito “de hoje a quinze”. Não tem erro; podem enumerar: o “de hoje a quinze” de um Sábado necessariamente cai num Sábado. Não encontrarão nenhum baiano se referindo a “de hoje a dezesseis”. O que, aí sim, seria uma má ilação lógica e aritmética.

O “de hoje a oito” causa estranheza à primeira vista, mas um olhar mais atento dá conta de um recurso linguístico pitoresco, inteligente, lógico e totalmente válido ao falar; embora, sem dúvidas, se trate de uma particularidade da linguagem regional. 

Doravante, não nos refiramos mais ao de hoje a oito entre aspas. Um dia falamos mais sobre essas peculiaridades de nosso linguajar.

Que tal de hoje a oito?

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A diplomacia de Dilma sabe endurecer quando precisa

Uma grande vitória da diplomacia brasileira, que começou a partir do discurso indignado da presidenta Dilma na abertura da assembleia geral da ONU.Grandes negociadores, nossos diplomatas também estão mostrando que vale à pena endurecer o jogo algumas vezes.

Comissão da ONU aprova proposta para limitar espionagem eletrônica


Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Original aqui.

Brasília – Uma comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou hoje (26), por consenso, a proposta conjunta apresentada por Brasil e Alemanha para limitar a espionagem eletrônica. A resolução deve ser votada pelos 193 países que compõem a Assembleia Geral no próximo mês.

Apoiada por 55 países, a proposta conclama os governos a revisar procedimentos, prática e leis em relação à vigilância, à interceptação das comunicações e à coleta de dados pessoais. Esses procedimentos, reivindica a proposta, devem respeitar o direito à privacidade, expresso no Artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Artigo 17 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.

Presidenta Dilma: discurso histórico contra abusos de espionagens
O texto não cita exemplos específicos, mas foi elaborado após as denúncias do ex-técnico de inteligência norte-americano Edward Snowden divulgar detalhes de um programa de espionagem global empreendido pela Agência de Segurança Nacional. Segundo os documentos vazados por Snowden, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia atuam em conjunto para espionar comunicações privadas em todo o planeta.

domingo, 24 de novembro de 2013

O PT COM MEDO DE PEIDO


José Ribamar Bessa Freire
24/11/2013 - Diário do Amazonas

Original aqui.

- Menino, tua camisa está com medo de peido.

Foi assim que a Elita, filha da dona Nêga, nossa vizinha lá no beco, em Manaus, saudou minha passagem em frente à sua casa no meu primeiro dia de aula, há 60 anos, quando era eu ainda analfabeto. A expressão criada pela sabedoria popular era muito usada, pelo menos no Amazonas, para denominar uma camisa muito curta. Eis o que eu queria dizer: foi essa "camisa com medo de peido" que vários amigos meus do PT vestiram depois da prisão de Dirceu, Genoíno e Delúbio.

Por que este modelo medroso de camisa? No meu caso, é fácil explicar. Sem dinheiro para comprar a farda do Colégio Aparecida - calça marrom e camisa branca - minha mãe fabricou, ela própria, o uniforme, em uma antiga máquina de costura Singer que tinha pedal gradeado de ferro, gabinete e gavetas. Para isso, transformou os restos de uma batina velha do meu tio, mas o pano era insuficiente e a camisa ficou acima da cintura, deixando meu umbigo de fora. Nunca mais esqueci a gozação da Elita.

E no caso do PT, qual o receio? Na abordagem das recentes prisões, alguns companheiros vestiram simbolicamente a camisa do PT, mas um modelo curto, deixando a descoberto o bumbum, que ficou mais por fora que umbigo de vedete. Eles juram de pés juntos que Dirceu, Genoíno e Delúbio são inocentes, foram injustiçados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), podem ser considerados presos políticos e devem ser tratados como heróis e mártires. Em consequência, execram o presidente do STF, Joaquim Barbosa, como alguém "vingativo", "ressentido" e "mesquinho". Esse é o resumo da ópera.

Pizzolato:foragido da Justiça, não exilado político

Dirceu crucificado

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Como ela consegue?

Ricardo Kotscho

Original aqui.

Atacada por todos os lados, qual o segredo de Dilma?


Atacada diariamente pelo pensamento único da grande mídia, por grupos de financistas e empresários, analistas econômicos e especialistas em geral, largos setores do PMDB e até do PT, os seus principais partidos aliados, com problemas sérios na economia e no Congresso, o noticiário negativo do mensalão e tudo mais jogando contra, como explicar a cada vez mais folgada liderança da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas para 2014 (no último Ibope, tinha mais intenções de voto do que o dobro dos seus prováveis adversários somados)?

Dilma e Lula: proximidade resistente
A cada nova pesquisa, esta é a pergunta que mais me fazem. Acho que a causa desta aparente contradição é demográfica e geográfica: o lugar onde moro e o meio social em que convivo é o mais crítico em relação ao governo do PT desde a primeira eleição de Lula e o mais refratário à revolução social que se deu no país nos últimos anos. Este Brasil velho e o novo Brasil são dois países que não se cruzam.

O maior eleitorado, tanto de Dilma como de Lula, vive nas regiões mais pobres e distantes do país, não costuma ler jornais nem acompanha blogueiros limpinhos, e ainda tem, sim, maiores dificuldades de acesso à educação e à saúde, mas sente que a sua vida melhorou na última década. Por isso, quer a continuidade deste governo, como mostram todas as pesquisas.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

É Só Socó

Rafael de Carvalho, paraibano de Caiçara, devidamente embriagado depois de muitas doses de Jackson do Pandeiro, compôs. Bia Góes interpreta.

É só Socó.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

As cores do tricolor

Já escrevi sobre o vexatório expediente que os clubes brasileiros estão usando para engordar um pouco mais os caixas das vendas de camisas.

A criação de "novos" uniformes, deixando de lado as cores e os padrões tradicionais não são mais novidade para praticamente nenhum clube do Brasil. O Vitória, recentemente se apresentando com camisas listradas em preto e branco na horizontal, causou-me a mais recente decepção. Ao contrário da campanha do ano passado, em que as listras eram horizontais e iriam sendo "preenchidas" de vermelho a partir da doação de sangue, a motivação desta campanha é meramente vender a camisa.

Que não tem nada a ver com as cores do Vitória.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PT e PSDB: diferentes mas nem tanto.


PT e PSDB não são tão diferentes quanto suas trajetórias de disputas fazem crer. Pelo contrário: em vários momentos do passado estiveram juntos. E hoje, afastados pela euforia das disputas eleitorais, ainda permanecem  unidos por alguns conceitos e projetos que, bem pesados e bem medidos, são praticamente iguais.

A convergência PT-PSDB sobre políticas sociais


Luis Nassif

Original aqui.


O Espaço Democrático GGN-IG (http://glurl.co/c7e) foi criado para permitir o debate de ideias e propostas entre os partidos. Já se discutiu a Reforma Política e a Política Econômica. Esta semana, a discussão é sobre políticas sociais. Descontadas as retóricas de lado a lado, o que se observa é uma importante convergência de diagnósticos: o de que a pobr
eza deve ser atacada em múltiplas frentes, com uma abordagem sistêmica, envolvendo renda, saúde, educação, habitação. As diferenças são mais de ordem semântica e econômica – ou seja, o modelo econômico que ancora as políticas sociais.

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sábado, 9 de novembro de 2013

O medo da queda e o império do medo

Fábio de Oliveira Ribeiro

Original aqui.

As revelações feitas por Edward Snowden sobre o uso da internet para coleta de dados dos cidadãos, empresas e governos de todo o mundo é a face mais visível de um grande problema que a mídia se resolve a encarar.  A mídia até tem dado notícias bastante acuradas sobre a crise diplomática envolvendo a atividade da NSA e sobre as conseqüências pessoais que Snowden está sofrendo em razão de vazar dados sigilosos de seu país, mas sob a superfície dos fatos há algo maior. A cultura do medo que levou o governo dos EUA a criar os super bancos de dados com finalidades evidentemente policialescas e imperiais.

Medo é um sentimento a que todos os seres humanos estão sujeitos. Alguns sentem mais medo do que outros. Com treinamento adequado, as pessoas podem enganar ou controlar o próprio medo. Mas o medo é e sempre será uma variável importante e imprevisível do comportamento humano, pois ele não deixa de existir nem mesmo quando seus efeitos ficam temporariamente suspensos em razão do uso de drogas.

O medo produziu as primeiras lanças de madeira e machados de pedra. Ele instigou os seres humanos a aperfeiçoarem seus armamentos até que os mesmos se transformassem no que são hoje. Mesmo assim, a insegurança nunca abandonou os homens em armas. Na verdade o medo que alguns desejam produzir em outros sempre volta a crescer dentro deles quando eles descobrem que os “outros” conseguiram equivalência ou superioridade bélica (impulsionados que foram pelo temor).

NSA - o braço "espião" do governo dos EUA


É assim que o medo se transforma em cultura automatizando os comportamentos até que ninguém mais questione como e porque se tornaram escravos dos seus próprios temores.  Ao tratar do medo das drogas nos EUA, por exemplo, Barry Glassner  constatou que o uso de drogas legais é socialmente mais relevante que o tráfico de entorpecentes. Segundo ele mais:

“...americanos usam drogas  lícitas por razões não-médicas do que usam cocaína ou heroína; centenas de  milhões de indiciamentos são usados de modo ilícito todos os anos. Mais da metade das pessoas que morrem por problemas médicos associados a drogas ou buscam tratamento para esses problemas estão consumindo medicamentos vendidos com receita. A própria American Medical Association estima que um entre 20 médicos seja completamente negligente na prescrição de medicamentos, e, de acordo com a Drug Enforcement Agency (DEA), no mínimo 15 mil médicos vendem receitas ilegais. No entanto, menos de 1% do orçamento relativo ao combate às drogas destina-se ao controle do uso abusivo de medicamentos vendidos com receita.” (Cultura do Medo, editora Francis)  

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Lampião como ele era

Benjamin Abrahão, libanês, produziu todas as imagens cinematográficas que existem do controverso cangaceiro Lampião.

Para muitos, hoje, uma espécie de herói do sertão, um tipo de Robin Hood do Nordeste, e para seus contemporâneos a imagem perfeita do Diabo.

Nada disso descreve Lampião com Justiça.É difícil fazê-lo.

Benjamin chegou bem perto. Ou suas lentes fizeram isso.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A importância do Marco Civil da Internet

Luis Nassif

Original aqui.

Nos últimos anos, uma nova lei – a Lei do Cabo – permitiu aos canais de TV a cabo descontar parte do imposto de renda no financiamento de produções nacionais – com obrigatoriedade de passar um pequeno número de horas/mês no horário nobre.
Bastou para que começasse a florescer por todo o país uma nova indústria de audiovisual.